quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Mais barraginha


[1]

Luciano Cordoval esteve lá no Meu Sítio, final de novembro.  Ele é o cara que desenvolveu, implanta, anima e prepara multiplicadores para as Barraginhas, uma das tecnologias sociais mais importantes que eu conheço.  Quando falei disto a primeira vez, ele já tava na bica de 500.000 barraginhas pelo Brasil afora.  Com a idéia[2] de espalhar multiplicadores pelo Brasil, Luciano virou plantador de água.  Já deve ter passado de um milhão de barraginhas, trazendo vida para um punhado de gente que perdia sua esperança pra seca, a cada vez que a chuva não vinha.
Chegou com sua Ana, pra fazer um improvável lago lonado no topo mais alto da parte de cerrado.

A coisa é de uma simplicidade absurda.  Coisa de gênio mesmo.  Enquanto a função das barraginhas é jogar a água da chuva pro lençol freático, a proposta do lago (que ele gosta de chamar de múltiplo uso) é deixar a água disponível pro que a gente quiser:  irrigar as plantações de eucalipto do Diogo, deixar água pras vacas (as duas), pro Tomás pescar uns lambarizinhos[3].  Uma festa.
O macete tá na inclinação da rampa (não mais que 30º), pra evitar que a terra escorra na rampa. Aí cobre o fundo com lona de 200 microns, de 8 metros de largura (se precisar de emenda, usa cola de sapateiro).  Cobre a lona com uma camada de terra e aí a chuva enche e a gente mantem, bombeando água do riacho.

Outro dia, sem ele saber, ganhou de uns amigos do Rio um filme sobre a experiência.  Me mandou, feliz igual menino diante de um prato de brigadeiro.





[1] Desenho pirateado na tora do Mário Vale, de quem, aliás, pirateei também minha cara de Papai Noel.
Com o conhecimento dele, diga-se de passagem

[2] Deve ser praga do Fernando Pessoa que dizia em alto e bom som, “Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa propria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ipsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse”, in Livro do desassossego, já citado aqui umas duas vezes.  Eu sempre ria da vovó escrevendo directa e agora não consigo deixar de acentuar ideia.  Ainda bem que o Novo Acordo Ortográfico ainda não entrou em vigor.

[3] Luciano acha que dá pra criar tilápia, se a gente quiser correr o risco de passar raiva com o povo indo lá pescar.  Se rolar, tá bem servido...

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