terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Esculacho



Celinho, e aqui também[1], outro dia me passou o maior esculacho por eu estar andando meio preguiçoso com as postagens do blog.  Dizia ele que o blog devia ser minha contribuição pra melhorar a vida de quem sofre ou sofreu o mesmo problema que eu.  Que eu devia considerar o blog como minha responsabilidade pra melhorar o mundo.  Claro que eu achei um baita de um exagero dele.  O blog até que, egoisticamente, era um jeito bom de melhorar minha vida, se tanto...

Mas outro dia me aconteceu uma surpresa que melhorou mesmo minha vida.  Recebi um email da Márcia, de Macaé, que conversava comigo como se a gente se conhecesse de longa data.  O ponto que nos unia era o câncer e o Sutent, que no meu caso foi fantástico e, no caso dela, serve como um tratamento complementar depois da retirada do rim esquerdo e da descoberta de algumas coisas na coluna.  Ela tinha começado a procurar sobre o Sutent (e aqui também) no Google e acabou nest’A Saga.

Márcia ainda está com metástases em meia dúzia de ossos e o Sutent, complementando a terapia com Zometa[2], vai ajudando a não deixar a coisa avançar.  Tem hora, ela diz, que bate uma tristeza e faz a maior força pra não cair na depressão.
Ela anda fuçando o blog todo e fecha:  Foi bom “te conhecer”.  Também adorei!

Tô na maior briga pra ela contar a sua experiência em um blog também.  No mínimo, pra mandar embora a tristeza que aparece, vez em quando.  Márcia me deu a maior vontade de postar mais sobre os sustos e as alegrias que eu ando vivendo neste período.

Beijão pra você, menina.  Eu e Valente (e acho que Celinho também) ficamos daqui torcendo!

http://www.youtube.com/watch?v=38MeE_T-cZA




[1]  Ele até aparece em mais situações.  Mas fica com vergonha, quando eu falo dele...
[2]  Nem nunca ouvi falar.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Édipo Turbo


Diogo e Carol fazem um belo trabalho com Tomás.  O menino anda cada vez mais encantador e cada vez mais apaixonado com a mãe.  Nada novo, considerando que Freud, desde sempre, já tinha avisado em que esta coisa ia dar.

Mas Diogo anda empenhado em conquistar um lugar que ainda não lhe cabe, tentando, de toda maneira, que a mamãe fique em segundo plano.

Ainda outro dia, passeando com Tomás na porta da casa deles, forçou o assunto perguntando pro menino na lata:
-  Tomás, você ama a mamãe até onde?
O dia estava lindo e Tomás olhou pra cima e respondeu sem hesitar:
-  Até o céu.
Meio que querendo comparar, Diogo emendou, continuando o interrogatório:
-  E o papai?
Tomás pensou um pouco antes de responder, e não querendo ferir suscetibilidades, acabou com o assunto:
-  Até o alto daquela árvore ali!
E apontou pra uma arvrinha que mal alcançava o teto do edifício onde eles moram.

Diogo me contou morrendo de rir mas guardou aquela dor profunda dentro do peito.  E começou a jogar todas as suas fichas em uma reviravolta da situação.  Quando achou que tinha a coisa sob controle, voltou a carga, torcendo por uma mudança no cenário.
-  Tomás, você gosta muito do papai?
Rindo, com a cara de quem sabia o estrago que estava por causar, a criança respondeu:
-  Mas eu gosto mais da mamãe...

Concordo com Diogo.  Pai sofre!



quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Mais barraginha


[1]

Luciano Cordoval esteve lá no Meu Sítio, final de novembro.  Ele é o cara que desenvolveu, implanta, anima e prepara multiplicadores para as Barraginhas, uma das tecnologias sociais mais importantes que eu conheço.  Quando falei disto a primeira vez, ele já tava na bica de 500.000 barraginhas pelo Brasil afora.  Com a idéia[2] de espalhar multiplicadores pelo Brasil, Luciano virou plantador de água.  Já deve ter passado de um milhão de barraginhas, trazendo vida para um punhado de gente que perdia sua esperança pra seca, a cada vez que a chuva não vinha.
Chegou com sua Ana, pra fazer um improvável lago lonado no topo mais alto da parte de cerrado.

A coisa é de uma simplicidade absurda.  Coisa de gênio mesmo.  Enquanto a função das barraginhas é jogar a água da chuva pro lençol freático, a proposta do lago (que ele gosta de chamar de múltiplo uso) é deixar a água disponível pro que a gente quiser:  irrigar as plantações de eucalipto do Diogo, deixar água pras vacas (as duas), pro Tomás pescar uns lambarizinhos[3].  Uma festa.
O macete tá na inclinação da rampa (não mais que 30º), pra evitar que a terra escorra na rampa. Aí cobre o fundo com lona de 200 microns, de 8 metros de largura (se precisar de emenda, usa cola de sapateiro).  Cobre a lona com uma camada de terra e aí a chuva enche e a gente mantem, bombeando água do riacho.

Outro dia, sem ele saber, ganhou de uns amigos do Rio um filme sobre a experiência.  Me mandou, feliz igual menino diante de um prato de brigadeiro.





[1] Desenho pirateado na tora do Mário Vale, de quem, aliás, pirateei também minha cara de Papai Noel.
Com o conhecimento dele, diga-se de passagem

[2] Deve ser praga do Fernando Pessoa que dizia em alto e bom som, “Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa propria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ipsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse”, in Livro do desassossego, já citado aqui umas duas vezes.  Eu sempre ria da vovó escrevendo directa e agora não consigo deixar de acentuar ideia.  Ainda bem que o Novo Acordo Ortográfico ainda não entrou em vigor.

[3] Luciano acha que dá pra criar tilápia, se a gente quiser correr o risco de passar raiva com o povo indo lá pescar.  Se rolar, tá bem servido...

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Ela, de novo




Tenho aprendido, pela minha vida afora, que em pouca coisa ainda ouso pontificar.  Mas tem uma que eu acho uma das minhas verdades inderrubáveis:  não vale a pena brigar com mulher. 
Aprendi com as minhas que, quando brigo com elas, eu sempre perco.  Mesmo quando ganho, fico tão devastado, que perco.  Simples assim.
Entendi, e escolhi, que é melhor ser feliz do que ter razão.

Acho mesmo que foi por causa disto que andei sumido por tanto tempo.  Pois você acredita que Isadora, minha veia bailarina, me puxou de vez o tapete?  Ainda outro dia eu tinha desacatado ela toda, falando do trabalho que Zé Vicente, meu personal angiologist havia feito, dos stents que ele tinha colocado...
A bem da verdade, Zé Vicente tinha feito uma angioplastia.  Mas pela imagem, mesmo para um leigo, era evidente que só faltava correr pro abraço.

De pirraça, Isadora não apareceu de jeito nenhum.  Não tive escolha.  Tive que fazer um enxerto de fístula, no punho da mão direita, e deixar Isadora de lado.  Agora to eu aqui, espremendo bolinha pra amadurecer a veia nova.

O frêmito ainda tá fraquinho, fraquinho.  Vai ficar bom lá pra meados de fevereiro.  Mas eu andei bem tristinho com o desacato desta Isadora.

Agora tá bacana...  Mas fiquei um bom tempo sem achar a menor graça!