terça-feira, 28 de agosto de 2012

Picnic


  
Ahmed outro dia me aplicou no Baixo Bahia Futebol Social, um grupo de gente que se apropria dos espaços urbanos e bate uma bolinha, normalmente de madrugada, nas ruas e praças de Belo Horizonte.  Meninos, meninas, tudo misturado, mas todo mundo disposto a dar outros usos para os espaços urbanos.  A mesma cara do texto que Marcelo Xavier retratou na sua crônica semanal do Hoje em Dia [1] da semana passada.  Segundo a Veja, é tendência na Europa...

Pensei neles dois quando Diogo e Carol resolveram fazer um picnic pra celebrar o aniversário do Tomás, sábado passado.  Chamaram os coleguinhas do menino com os pais e lá fomos nós, curiosos com os caminhos para onde a novidade nos levaria. 


O lugar escolhido foi a Parque Professor Amilcar Vianna Martins, do lado da Fumec (ali, onde fica a primeira caixa dágua de Belo Horizonte.  Neguinho costuma chamar de Praça da Copasa).
O lugar é deslumbrante.  De lá Belo Horizonte se descortina, despudorada, pra você, em um gramado super bem cuidado, cheio de brinquedos.  Você só tem que entrar no site da Prefeitura e avisar que está indo.



Tia Ciça e Carol se incumbiram da produção e a coisa parecia não ter mais fim.  Arrumaram os comes e bebes espalhados em toalhas de chita pelo chão, todo mundo no self-service.  Foi um tal de arranjar atividades que, pros meninos, não teve melhor.  Todo mundo se lambuzando na tinta guache, giz de cera pra todo canto e as primas grandes todas empenhadas na função.   E a gente dizendo quer era oficina de artes. 


Enchemos uns bauzinhos antigos de moedas de chocolate e empreendemos a caça ao tesouro.  E enquanto os meninos, ensandecidos, buscavam pistas que os levasse ao local desejado, um outro grupo ia montando a mesa com os cupcakes que tomaram todo o dia anterior de preparação. Tomás mal conseguiu soprar o bolo, de tanto que os coleguinhas ficaram siderados com as surpresinhas supercoloridas.


E, na boa, ninguém se estressou, todo mundo cuidando de todo mundo, todo mundo ajudando todo mundo. 

Denis, irmão do Diogo de longa data, dizia pra mim que os aniversários dos amigos dos filhos dele que ele ia tinham a impessoalidade de um corredor de shopping.  E que ele, ali, ficava estimulado a interagir nas brincadeiras com os meninos.
     

Drama digno de registro:  não tem banheiro.  As crianças se desafogavam sem o menor constrangimento.  Nós, grandes, éramos obrigados a correr na Fumec, voltando aos tempos de universitários.




[1] Marcelo agora escreve no jornal toda terça.  Você pode acompanhar as últimas crônicas pelo perfil dele no facebook.



quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Surdo Oralizado


A primeira vez que Boni falou comigo de Sociedade Inclusiva, nem entendi direito do que se tratava.  Nada mais razoável.  Afinal, eu já sou incluído desde pequenininho.  Mas outro dia apareceu, nas redes sociais, um movimento por causa da falta de acessibilidade em bancos para Surdos Oralizados (e não oralizados). Os bancos exigem que os surdos comprem um aparelho especial caríssimo, que só tem a função de ligar pra outro aparelho especial. Ninguém tem esse aparelho! Então, vários serviços bancários continuam inacessíveis! Isso é uma injustiça, em tempos que se fala de acessibilidade universal.

À época, a idéia era fazer um panelaço.  Por que o panelaço? Porque os bancos brasileiros acham que acessibilidade é nos dizer: ligue para o 0800 de deficientes auditivos e fale através dele. Acontece que esse 0800 é uma enganação. Requer que a pessoa possua um telefone especial TDD que ninguém quase tem, porque se trata de uma ‘tecnologia’ totalmente obsoleta. Nos dias de hoje, chega a ser uma piada pedir que um surdo oralizado (que se comunica oralmente e não utiliza Língua de sinais) tenha um TDD em casa.
Os bancos necessitam urgentemente de gerentes capacitados para lidar com clientes com deficiência auditiva.  É muito fácil mandar ligar para o 0800.  Mas e como fazer?  Pedir para um parente ou amigo fingir que é a pessoa surda ao telefone?  Isto é fraude, além de nunca dar certo.

Mas parece que a coisa está mudando.  Claudinho Ferreira, meu personal communications engineer, manda notícias.  É que uma parceria entre o Inatel e a Secretaria de Ciência e Tecnologia de Minas vai possibilitar o desenvolvimento de equipamentos para atender pessoas com diferentes tipos de deficiência.  O projeto passa pelo desenvolvimento e fabricação de instrumentos tecnológicos que assegurem autonomia e independência a pessoas com deficiência.  Acabou gerando o Centro de Transferência de Tecnologia Assistiva (CDTTA), inaugurado no começo de agosto em Santa Rita do Sapucaí[1].

O foco é a aposta na melhoria de qualidade de vida aos deficientes. O Centro é resultado de parceria com o Inatel – Instituto Nacional de Telecomunicações, com sede naquela cidade. Terra de gente doida.  O Vale do Silício de Minas Gerais.

O Centro estará integrado às ações já desenvolvidas pela área de engenharia biomédica do Inatel. Com a experiência acumulada de ser uma das seis instituições de ensino no Brasil que oferece o curso de graduação em Engenharia Biomédica, o Instituto vem desenvolvendo inovações desde 2003.  Não tenho dúvidas que isto vai resultar em melhoria e inclusão na vida de um tanto de gente.

Manda notícias sempre, Claudinho. 



[1] Por coincidência, foi lá em Santa Rita que est’A Saga começou.  

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Série Turismo para gente especial 6



A melhor notícia que me aconteceu, desde que eu inventei que queria ver Paris de novo, foi a descoberta do CDAM – o Certificado de Direito de Assistência Médica.
É uma bela descoberta pra nós, deficientes físicos, e até pra você, em pleno gozo de suas funções vitais mas que não quer correr risco à toa.

O CDAM é uma espécie de garantia de atendimento SUS nos países com os quais o Brasil tem convênio.  No Mercosul (Argentina e Uruguai) não chega a ser grande vantagem: a gente já tem direito.
Mas o convênio do CDAM estende a proteção médica ao Chile (na América do Sul) e a Portugal e à Itália (na Europa).

O acolhimento é de acordo com a Classificação de Risco do Protocolode Manchester.  Em você estando com a unha encravada, vai ser atendido depois de quem está com uma parada cardíaca, por exemplo.   O que, diga-se de passagem, me parece mais do que razoável.


O que mais me surpreendeu na história foi a presteza e a delicadeza do pessoal de atendimento do Ministério da Saúde.  Em Belo Horizonte, funciona na Rua Espírito Santo, 500 – sala 1203 e o atendimento é feito por duas pessoas que esbanjam boa vontade e prontidão: a Deusdedith e o Adriano.  Não passam nem perto de um eventual estereótipo que você possa fazer de um funcionário público ruim de serviço.
Os dois se esmeram nas explicações e na preocupação de saber se a gente entendeu direito.  Você pode experimentar falar com eles pelo telefone (31)3248-2840 e 3248-2814.  Ou, se não for daqui, liga direto pra Brasília (61)3306-7207 e veja qual é o lugar mais perto de você.

Os dois me esclareceram tudo previamente, por telefone.  É preciso levar um comprovante da sua relação com o INSS (no meu caso foi o extrato do benefício da aposentadoria.  No seu, pode ser o seu contracheque, mostrando o desconto do seu salário), original e cópia do CPF, da Identidade e o Passaporte (com o xerox das páginas de identificação).  Pra melhorar ainda mais, o benefício pode ser estendido à pessoa com quem você vive (mulher, marido ou companheiro) [1] e aos filhos de até 21 anos.
O CDAM vale por dois meses.  Caso você vá ficar com um residente no destino (um local que seja sua base na viagem - não pode ser o endereço de um hotel) a validade fica estendida para 6 meses.  E, vapt vupt, fica pronto em 48 horas. 
Eu fiquei maravilhado.

Aí você me pergunta:  e a França, que era o assunto do começo do post?  Pois é.  Nisto eu dancei.  O princípio da reciprocidade diplomática restringe a relação só entre Brasil, Chile, Portugal e Itália. 
Mas já é um belo de um começo, não é não?


[1]  Imagino que a questão, hoje, abranja a união estável.  Mas pergunta, por via das dúvidas...

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Meu prazer maior



Meus meninos adoram pegar no meu pé pelo tanto que eu choro com qualquer coisa.  Particularmente quando esta coisa diz respeito a um deles, aí eu me desmancho.  Choro com formatura[1], choro quando adoece, choro quando casa, choro quando sai de casa, choro agora, escrevendo isto.  Eles não conseguem enxergar uma gota de sentido na questão.  Só riem, enquanto eu me debulho.

Outro dia me deparei com um texto do Maurilo, do Pastelzinho, que reflete com intensa precisão o significado da minha paixão com o ofício de ser pai e é até um dos motivos pelos quais eu me espelho em São José quando penso na missão que a gente recebe, quando os meninos passam a fazer parte do nosso caminho.  Acho este texto do Maurilo um presente pra quem se decide a ser pai na vida.

“Há duas grandes certezas na vida de um pai, duas grandes verdades contra as quais não cabe réplica ou ajuste. 
A primeira é imediata, quase violenta em seu impacto: ele nunca foi tão feliz. Pouco importa o que tenha vivido, onde tenha ido ou quem tenha comido, ele nunca, absolutamente nunca, sentiu-se assim.
A segunda foge-aparece no canto do pensamento, repisca num cochilo e, súbita, toma conta de tudo: ele nunca teve tanto medo. Pouco importa o salto de pára-quedas, os filmes de terror à meia-noite, o valentão da escola, ele nunca, absolutamente nunca, sentiu-se assim. 
Pais têm um medo que a luz não cura, que o riso não espanta, que não é o susto. É algo que agora faz parte do dia e pronto. Pais convivem com o medo como quem sabe perfeita e inevitável sua mortalidade. Ganham uma noção sem precedentes da própria presença. E, conseqüentemente, da própria ausência.
Um pai vai te contar como ele é feliz, mas nunca vai falar sobre o medo. Mesmo que você o descubra chorando ao ver o filho dormir.”

Maurilo ainda não sabe.  Mas quando aparece um neto, a felicidade cresce, quando você achava que não havia mais jeito de.
E com o medo, acontece a mesma coisa.


[1] Do pré à faculdade, chorei em todas.


quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O Flautista de Hamelin



Marcelo Xavier[1] é doido.  De pedra.  Tira as coisas da cartola e, do nada, as idéias vão tomando corpo. 
O delas e o nosso.  E nós, ainda sem entender direito, embarcamos na onda como que encantados pelos apelos sedutores de um flautista de Hamelin.

Dia desses recebi uma convocação pra ajudar ele neste delírio.  No início, ninguém sabia ao certo do que se tratava.  Que era contra a intolerância, era evidente.  Marcelo queria uma coisa um pouco mais refinada.
É contra preconceito de raça?  É também, acenava ele, rindo.
É contra preconceito religioso?  É também, acenava ele, rindo.
É contra preconceito de gênero?  É também, acenava ele, rindo.

Generoso, Marcelo anda atrás de um conceito mais amplo.  E não explicava nada pra gente.  Espalhou a ilustração que fez e deixou que a gente entendesse da forma que melhor aprouvesse a cada um.

Até onde eu alcancei, vai ser a celebração da complacência e da tolerância.  Como?  Você vai ter que estar presente, pra manifestar de que maneira você entende isto.
Não por acaso, Paulinho Saturnino, um dos nossos mestres do assunto, citava hoje Rosa de Luxemburgo, que queria pra nós todos um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres.  Acho que é alguma coisa assim que anda pela cabeça do Marcelo.

Sugere que cada um vá com um guarda chuva, o mais colorido que tiver.  Pra que? perguntei eu pro Marcelo.
Pra ficar bonito, ele completou, com um sorriso imenso lhe enfeitando a cara.

Vai ser na Praça Duque de Caxias, onde a gente fez a NefroWalker da Despedida do Bolão.  Sábado agora, a partir de uma da tarde.
Aparece lá.  A festa começa mesmo é na hora que você chegar.



[1] Ia colocar uma referência mas desisti.  É melhor você escrever o nome dele na caixa de pesquisa do blog e deve aparecer uma quantidade interminável de posts falando no cara.