quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Be my Valentine II


Quando eu passei no vestibular, eu não tinha passado, exatamente.  Deixa eu me explicar: 
Eu havia ficado em primeiro lugar entre os excedentes.  O que deixava minha chapa esquentando, uma vez que Gêisa já tinha passado em Psicologia, et pour cause, minha sogra andava olhando pra mim com uma cara que não era lá de muitos amigos.
Fiquei uma semana esperando pra ver se alguém desistia e assim, eu pudesse ter minha entrada na universidade garantida.
Aos 44' do segundo tempo, apareceu uma desistência.  Só que, junto com a vaga, apareceu também uma candidata que havia sido listada entre os alunos de outra escola e precisava voltar pro lugar correto, que era na turma de Relações Públicas. 
Justo na minha. 
Uma tal de Cláudia Maria Pena Araújo.
Mas aí, aos 45', um coitado não passou no Madureza e não pode fazer a inscrição.

Foi dessa forma desastrada que Cláudia entrou de vez na minha vida e se tornou, de lá pra cá, a melhor amiga que a escola me deu.  Tudo, a gente fazia junto.  Estudava, estagiava, assinava trabalho um do outro.  Tudo.

Ela não gostava muito de Relações Públicas.  Devagarzinho, foi abandonando a profissão e terminou sendo secretária da diretoria da Açominas.  Foi aí que Vagner apareceu e, por causa dela, a vida de nós todos foi virando um cipoal que, a todo momento, fazia nossa vida se cruzar[1].

Foi minha madrinha de casamento[2].  Depois, levou as duas filhas pra o Ponto de Partida, escolinha que Gêisa abriu quando a gente voltou da França. 
Neste momento a gente ficou um breve tempo sem se ver e ela me aparece formada em Enfermagem.  Não entendi nada.  E ela: 
-  Tô na maior felicidade...
Fizemos um jantar aqui em casa em homenagem a tal formatura e ela, ressabiada (sentimento legítimo de quem me conhecia até o último fio de cabelo): 
-  Você tem certeza que isto é uma homenagem?  Ou você está de sacanagem comigo?

Era homenagem mesmo.  Cláudia me deixou fascinado com a coragem de ter reorientado a vida para uma coisa que ela adorava, mesmo já tendo construído uma carreira profissional respeitada.

Depois, quando Vagner foi pra Santa Casa, me queria montando um projeto de educação que ele começou com a PUC Minas.  Foi um dos sonhos mais bacanas que a gente viveu juntos.

Cláudia foi a primeira pessoa que apareceu aqui em casa, depois da operação.  Morreu de rir quando eu contei pra ela queficava torcendo pra ela adentrar meu quarto, agora como enfermeira.

Um pouco mais tarde, um câncer começou a encher o saquinho dela.  Eu deixava os livros do blog na sua casa e ia trocando notícias com Vagner na Fundação Dom Cabral onde, de novo, nossos caminhos se cruzaram.

Justo depois do último post, quando que eu falava de minhas Valentines, recebo a notícia que Cláudia morreu, com o câncer maltratando os últimos três meses da vida dela.  Mas ela ainda teve tempo de brincar com Lucas, seu primeiro neto, filho da Andréa, que fez Cláudia levar uma lembrança bonita de tudo que ela construira neste tempo por aqui.

Pedi a Andréa que pusesse junto ao Lucas a medalhinha de Nossa Senhora que o Valentim trouxe pra mim da igrejinha da Rue du Bac.  É tudo que eu gostaria de ter dado pra Cláudia antes dela ter ido.




[1] E você acredita que, até na faculdade de Biologia, Ciça foi colega de Clarinha, a mais nova dela.
[2] As duas fotos que iluminam este post são do meu casamento

6 comentários:

Anônimo disse...

Linda homenagem a ela Paulinho! Com certeza ela ficou muito feliz com isso! bjs.Valéria Hudson

PC disse...

Você não tem idéia, Miss Hudson, do papel dessa mulher na minha vida.
Beijo

Adriana disse...

Lindo! Lindo! Lindo!

PC disse...

Ô mulher linda, Adriana.
Todo mundo apaixonava com ela...

Renata Feldman disse...

Lindo de viver.
Bj

PC disse...

Essa era linda com força, Rê.