quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Errata

                           
Dudu Menicucci, a quem eu dediquei o post Viajandão, reclamou que eu já havia colocado o Texto 452 do Fernando Pessoa e tornei a colocar na série para Turistas Especiais 03.  Acho que, com razão, ele ficou enciumado, achando que o texto era só pra ele.  No duro, no duro, eu nem lembro mais do que eu já escrevi aqui.  Como todo velho, sempre tem o risco de eu contar duas vezes o mesmo caso.
                     
Daí então, substitua o texto 452 por este, que curiosamente, vem na página antecede o pomo da discórdia no Livro dos Desassossegos do Fernando Pessoa.
                             

Trecho 451

                       
Viajar?  Para viajar basta existir.  Vou de dia para dia, como de estação para estação, no comboio do meu corpo, ou do meu destino, debruçado sobre as ruas e as praças, sobre os gestos e os rostos, sempre iguais e sempre diferentes, como, afinal, as paisagens são.

Se imagino, vejo.  Que mais faço eu se viajo?  Só a fraqueza extrema da imaginação justifica que se tenha que deslocar para sentir.

“Qualquer estrada, esta mesma estrada de Entepfuhl, te levará até ao fim do mundo.”  Mas o fim do mundo, desde que o mundo se consumou dando-lhe a volta, é o mesmo Entepfuhl de onde se partiu.  Na realidade, o fim do mundo, como o princípio, é o nosso conceito de mundo.  É em nós que as paisagens têm paisagens.  Por isso, se as imagino, as crio; se as crio, são; se são, vejo-as como às outras.  Para quê viajar?  Em Madrid, em Berlim, na Pérsia, na China, nos Pólos ambos, onde estaria eu senão em mim mesmo, e no tipo e género das minhas sensações?

A vida é o que fazemos dela.  As viagens são os viajantes.  O que vemos não é o que vemos, senão o que somos.
                 

Fernando Pessoa, in O livro do desassossego.

2 comentários:

Dudu Menicucci disse...

Agora sim, correções feitas!!!!!!
Viajandões somos eu, SAMAMBA LINDA e VOCÊ, Gordinho querido!!!!

PC disse...

Ô menino ciumento, gente...