segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Rebeldia - 131



Tem já um tempinho que Tomás estuda no Clic.  Não é exatamente uma escolinha.  Elas se autointitulam um Centro Lúdico.  E uma das coisas que eu mais gosto do Clic é que eles estimulam a criança a argumentar.  A colocar pra fora, em vez de ficar sofrendo, insatisfeito

Desde a mais tenra, a cada vez que alguém contradizia o Tomás, ou ele ficava amuado ou ia pra um canto, curtir sua profunda dor por não ter toda a humanidade ao seu lado.

Lá no Clic, a Bárbara, professora dele, estimula  cada uma das crianças a expressar seu descontentamento.  Não precisa chorar, não precisa brigar, só falar:  Não gostei!
Com freqüência eu me pego, me deliciando com esta facilidade pra expor seu sentimento, coisa com a qual eu não fui acostumado, ele aprendendo a estabelecer relações mais claras com quem ele convive.

Tem vez que é um desacerto.  A gente telefona, cheio de saudade, e ele, na lata, fala com Carol:  Não quero falar!
E acabou o assunto.  Não há nada que convença aquele anjinho a pegar no telefone.

Agora ele acabou de entender como se encerra uma discussão.  A gente convida:  Vamos pra piscina, Tomás?
E ele:  Piscina, nada!
Tomás, vamos almoçar?
Almoçar, nada!
Vem dormir aqui comigo, Tomás.
Dormir, nada.

Nada, pra ele, significa ponto final.

Ciça acha isto a coisa mais engraçada do mundo.  A bem da verdade, eu também.  A um ponto tal que incorporamos a reação como uma gíria interna aqui de casa.

-  Ciça, me deixa ali na Savassi?
-  Savassi nada!

Eu e Ciça ficamos nos esgrimindo pra ver quem surpreende o outro com o uso mais adequado da expressão criada pelo Tomás.

Surpreende, nada!

sábado, 27 de novembro de 2010

Edição Extraordinária 38 - Networking no NefroWalkers



Você não acredita quando eu falo que as caminhadas estão bombando.  Este pessoal não pode esperar até o final.  O do cantinho, com o violão, tinha um compromisso em São Paulo e não podia ficar.  O de gravata, logo acima, ia começar uma guerra não sei onde.

Começa sempre comigo ansioso.  Vou pro lugar meia hora antes e fico esperando.  Será que vem alguém hoje?  E aí vai chegando.  Desta vez, Flavinha, minha irmã e personal physical educator, comandou o alongamento.  Meio desajeitado, tive o Tutuca se transformando em poste, pra conseguir alongar panturrilha.


Aí a gente vai começando.  O legal é que, como cada um vai no seu ritmo, o grupo vai se alongando pela pista.  Fica uma turma mais atlética na frente, uma mais lerda pra trás.


Mas, Jesus, eu não volto ali nunca mais.  A volta da barragem era interminável.

Ao final, Ives, nosso personal chef de cuisine, com seu coração maior que o trajeto, aprontou a surpresinha do dia: uma Caesar Salad, toda temperada com aceto balsâmico e sei lá mais o que, com zero de sal, que provocou até a integração do grupo com os homens da lei.


Feio da festa, mas desculpável pelo motivo, foi só o Bernardo.  Veio da Suíça, mas perdeu a caminhada por causa do jogo do Galo.  Acabou ficando com a camiseta da Toninha, que, mais uma vez, não apareceu.


Foi lindo!

Pra ver as fotos todas, você vai no album do facebook:  http://www.facebook.com/profile.php?id=100000383380616#!/album.php?aid=31324&id=100000383380616

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Vida Normal - 130



Xande, meu personal urologist, conduziu o processo da minha cura desde o comecinho.  Fui no consultório dele hoje pra mostrar os resultados de uns exames que Leco, meu personal oncologist, tinha pedido.

E, a melhor forma de celebrar a data, Dia de Ação de Graças, Xande andou me recomendando uma sublevação contra os cuidados que Gêisa anda tendo comigo.  Olha que Xande, como primo, conhece bem a superproteção da família.  Lançou, revolucionário, a senha para o levante:
-  Vida normal![1]

Como é de bom alvitre, a primeira providência foi agradecer por toda esta ajuda que eu ando tendo lá de cima.  Passei um tempo conversando com Papai, que comanda os anjos e todo mundo que anda me protegendo.  Mas, guardados os cuidados que um paciente renal crônico deve ter, aviso logo aos navegantes:  estou voltando pra quebradeira.

Manda o bom senso que, por via das dúvidas, eu fuja do confronto.  Vou fazer tudo escondido da Gêisa e dos meninos.  E colocando as manguinhas de fora devagarzinho.  A recomendação do Xande agora é meu salvo conduto.  Neguinho chamou minha atenção, eu saco do cinto de mileuma utilidades:
-  Vida normal.  Liga pro Xande e pergunta...

Ruim é que, como diz Maurilo do Pastelzinho, eu hoje sou só um velho rabugento.  Se fosse no meu tempo, eu agora ia merecer o codinome que um amigo da Lisa me reserva, irônico:
-  The Legend!
 

 

[1] A idéia do post ele me deu quando a gente saia do consultório.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

10.000 - 129



Xandão é um dos caras mais engraçados e criativos que eu conheço.  Coloca de vez em quando uns comentários ninja no FaceBook que lembram aqueles locutores de rádio do interior:
Domingão preguicento e o nosso bom dia vai para você tem mil afazeres pro feriado, não fez nada e duvido que fará, pra você que adquiriu um sentimento forte pela cama, você que acredita na volta de Cristo, fim do mundo, mega sena, pra você que adora falar que trabalha muito mas é um vagabundo, você que tá com o saco ferido de tanto coçar, pra todo mundo que não vale uma cibalena vencida, o nosso booom diaaaa vidaaaaaaa!!!”

Ontem eu completei 10.000 visitantes no blog.  10.016, pra ser mais exato, depois que o Google Analytics começou a me auditar no dia 8 de abril deste ano.  Fico vendo esta variedade de gente que Xandão pôe nos recados dele e enxergo todo mundo aqui, me lendo.  No começo era pra falar da minha doença.  Depois foi pra falar da busca pela cura.  Agora, é só borrachinha, já que a situação ficou bem mais bacana.

Olha que doideira:  29 países.  Tudo bem.  Os óbvios a gente entende: Brasil, França, Bélgica, Estados Unidos, Portugal, Suiça, Canadá, Inglaterra tem sempre alguém da torcida, algum parente perdido pelo mundo.  Mas o que uma pessoa sensata da Bulgária, Filipinas, Afeganistão, Ukrania, Polônia, Suécia ou Rússia vai fazer lendo esta bobagem?  Em português?
Tem 3 entradas da Suécia com tempo médio de 16:07 minutos.  E umas meia dúzia do Canadá com 4:00.  
Vai entender...

A grande média dos brasileiros é de quase dois minutos no blog.  Ô gentinha a toa, esses brasileiros.  E quase que metade (46,78%) vem direto, sem passar por site de pesquisa ou indicação de outro blog.

Por isto que eu desejo a você que se dedica ao intrépido lavouro austero, o nosso benévolo dia de bom agouro vai para você, seu pulhastro, biltre de galináceo, cão lazarento, néscio de uma figa, escrotário, malfeito, ordinário, cabrão, paneleiro, bucéfalo anácrono, você traquina, vil e desprezível, pra você, seu cachorro molhado que tá gripado, com sinusite, rinite, conjuntivite, melequite, que tira meleca no trânsito, que limpa debaixo da mesa, na sola do sapato e bate o reboco verde nas paredes alheias, pra você que fuma muito e tosse com textura de ostra, você alérgico, que espirra aquele spray seguido de uma cordinha, para todos os catarrentos e nojentos do Brasil[1] (e do mundo, completo eu), o nosso booom diaaa vidaaa!!!

É um prazer enorme escrever estas bobagens pra vocês.




[1] Texto chupado na tora do Moet et Xandom no facebook


domingo, 21 de novembro de 2010

En vida, amigo - 128



Quando eu era pequeno, minha referência de família sempre era Governador Valadares.  Papai e Mamãe são primos e a família da mamãe saiu de Virginópolis pra começar Governador com o povo do papai, que saiu de Guanhães.
Pra mim, então, Governador só tinha duas coisas: primo e festa.  
As duas, fabulosas.

A gente ia pra lá sem nem se perguntar onde ia ficar.  Era sempre na casa de alguém.  E isto era preciso o suficiente pra gente viajar.  Com quem, onde, não tinha a menor importância.  Sempre tinha lugar.

Aí, nas festas, juntava todo mundo.  Era sempre uma farra.  Cobrindo com lona, um circo; cercando com muro, um hospício.

Passou um tempo, a gente cresceu e os encontros ficavam cada vez mais difíceis, cada um com as dificuldades da vida, e a gente só se encontrava em velório.  Cada vez que morria alguém, ia todo mundo correndo em Governador e voltava correndo.

Quando mamãe completou 80 anos eu senti o movimento pra reverter o quadro.  Os meninos da Tia Fabíola vieram de Brasília, os da Tia Loló vieram de todo canto, todo mundo de Governador veio.  

Aí aconteceu outro movimento bacana.  Os bisnetos da Vovó Maricas, de vez em quando (acho que é por semestre) se encontram.  Produção de festa mesmo.  Juntam dinheiro e, normalmente ficam dois, três dia em, dizem eles, resenha.  As resenhas acontecem meio que aleatoriamente.  Ninguém fazendo questão de nada.  Marcou, vai.  Detalhe: a coisa é discriminatória total.  Neto nem pode aparecer.  Só de bisneto pra baixo.

Ontem foi aniversário da Tia Élcie, o movimento se confirmou.  Todo mundo apareceu, todo mundo feliz, todo mundo emocionado.  Tico me fez lembrar de um poema que eu nem lembro nem autor nem de onde que ele entrou na minha vida.  Mas tá lá.  Serve pra mamãe, pra sua mãe e pra nós todos.  Acho que é anônimo.




En vida, amigo, en vida

Si quieres hacer feliz
a alguien que quieres mucho,
dicelo hoy e dale gusto.
En vida, amigo, en vida.


Si quieres dar una flor,
no esperes a que se muera,
mándale hoy con amor,
en vida, amigo, en vida.


Si quieres decir "te quiero",
a la gente de tu casa,
al amigo, cerca o lejos, dicelo
hoy, en vida, amigo, en vida.


No esperes a que se muera
la gente para quererla
y hacerle sentir tu afecto.
En vida, amigo, en vida.


Tu serás mucho más feliz,
si sabes dar felicidad,
a la gente que conoces,
en vida, amigo, en vida.


Mejor que visitar panteones,
y llenar tumbas de flores,
llena de amor corazónes,
en vida, amigo, en vida.
 

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Crias - 127



Dênio foi meu braço direito por onde eu passei.  Trabalhou comigo na Cedro, na Alterosa e onde eu ia, pedia sempre que ele me ajudasse a organizar o projeto.  E juntos a gente fez belas inventações de moda pela vida.

Esta semana eu fui a uma aula dele, assistir uma palestra do Diogo sobre produção de vídeo.  Tudo bem, eu estou longe de ser imparcial nesta questão.  Mas fiquei maravilhado com a aisance[1] do Diogo pra falar com a platéia, toda de gestores de empresas.  E fiquei pensando porque, ó raios, ele não caminha pra sala de aula.
Parecia que ele estava com uma turma de amigos em um bar, conversando sobre como foi o dia.

No final, quando Dênio se desmanchava em agradecimentos, me colocou no meio e começou a agradecer sobre o quanto tinha sido bom a gente ter estado ali.  Lembrei, e mostrei a ele, um recado que ele tinha me mandado pelo celular, há um tempo atrás, e que eu guardo como um troféu:
-  Serei homenageado como professor.  Devo isto a você.
Achei que a turma, doida pra ir embora, tinha passado batida das lagriminhas que rolaram.  Mas as palmas denunciaram que eles tinham sacado o clima...

No final, meio mascarado, Diogo me arrasou, rindo irônico:
-  Eu achei até que você demorou a chorar.

Tivesse sido hoje, ia ser bem mais duro.  Porque, com tudo que eu já passei pela vida, a única coisa que eu tenho medo é de alguma coisa não boa acontecer com minhas crias.

Fiquei sabendo que uma filha de uma das minhas irmãs está com uma gravidez danada de complicada e arriscada.  Pro bem dela, ela está sendo assistida em um hospital de referência mundial.  Lembrei de quando a Lisa me falou do Richarlyson.
Eu e a mãe dela caímos no choro.

E você, em vez de tentar descobrir quem é, reza pra quando o parto acontecer, correr tudo bem.

Como se diz lá na roça, Nossa Senhora do Parto há de lhe dar uma boa hora.
E como eu digo comigo desde o comecinho dessa minha busca pela cura aqui, aqui e aqui, vai ser tudo como Deus quiser.


[1] De être à l’aise,  Segundo o Petit Robert, facilité naturel qui ne donne aucune impression d’effort.  Menino nojento, eu...  Pó falar!



segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Edição Extraordinária 37 - Sakana



Outro dia. Maurilo me manda um recado pelo facebook. Meio enigmático, me diz:  “Acho que vc vai gostar desse blog. É uma peça rara que eu conheci via pastelzinho”.

É, de longe a pessoa mais mal humorada e ácida do mundo.  Mimada até não poder mais.  Ou seja, encantadora.  Resumindo: apesar das ameaças expressas no blog que ninguém tentasse seduzir a japa, caí de quatro, apaixonado.

Sakana-san é publicitária e está na fila de um transplante duplo.  Rins e pâncreas.  Trinta e poucos anos e a-do-ra comprar briga.  Espalha pro mundo que é mimada e maneja palavras, desvio profissional, com uma precisão que acaba se divertindo com o impacto que as falas dela provocam no interlocutor.

Acho superengraçado o jeito que se recusa a criar laços com o povo da diálise dela.  Eu me vi entrando no primeiro dia da diálise do jeito que ela descreveu.  Todo mundo querendo puxar assunto com a nova colega de infortúnio e ela desfilando, como se não tivesse ninguém na sala.  Travava nem contato visual.
Só que comigo foi o contrário.  Eu, em pânico, doido pra encontrar alguém que me contasse o que era aquilo.
Diz ela que não queria criar laço  com ninguém, que ela não queria sofrer quando perdesse.
Aí me lembrei do Geraldo Doido e da Dona Índia, que morreram depois que entrei na hemo.  Mas que adorei ter conhecido.

O mais legal é que Sakana-san vai desvelando sua doçura aos poucos.  Não é aquela coisa desavergonhada a que eu recorro com frequência.  Diz ela que precisa ser conquistada.

Comecei a ver isto mais claramente quando ela fala do seu Nagibe, um turcão, suponho eu, que deve achar que ninguém percebe o cabelo pintado.  Falei com ela no comments:  Dançou.  Ficou amiga dele...

Neste momento estou vivendo em lua de mel.  É que ela não sabe anexar vídeos no blog e olha pra mim como se eu fosse o Bill Gates, porque Lisa minha filha me passou o canal.  Fui fazer bonito e anexar pra ela.  Dancei...

Azeda, ela entrou contra mim no Procon, por publicidade enganosa.  Como ela é louca com John Pizzarelli, eu, que não perco esta mania de me exibir, vou tentar fazer bonito aqui...


sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Edição Extraordinária 36 - Lá vem mais NefroWalker


Lua cheia está chegando.  Hora de fazer outra caminhada.  Pode começar a deixar sua camiseta pronta e cuidar do seu preparo físico.
Acho que este vai ser o maior percurso que a gente já enfrentou.
Mas, qualquer coisa, a gente dá uma paradinha no meio pra descansar.

Você já perdeu a Lagoa Seca aqui.
A Praça da Liberdade aqui.
E a Praça JK aqui.

O trajeto vai ser este.  E vire sua boca pra lá porque é claro que não vai chover...


quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Saltless - 126



Logo que eu me operei, a recomendação do Xande, meu personal urologist e do Leco, meu personal oncologist era pra zerar o sal.  A notícia, claro, foi pessimamente recebida por quem tinha o hábito de me acompanhar à mesa.  Com Gêisa era moleza.  Era ela sempre a mais empenhada em ver a dieta funcionando.  Mas para os meninos era um suplício.

Era sentar na mesa e pedir o saleiro.  Provar a comida e torcer a cara.  Mas aquele ritual sofisticado de rejeição deixava Gêisa enlouquecida, pelo tanto de malabarismo que ela fazia pra deixar a comida com sabor, apesar de sem sal.

Outro dia fui surpreendido por um email da Ciça onde ela dizia:
-  Desde que a comida aqui de casa mudou radicalmente a quantidade de sal, temos que agradecer os benefícios disso!
E recomendava um endereço na net que dava um punhado de dicas para se manter o sabor na comida exclusivamente com temperos.  Olhaê:  http://yahoo.minhavida.com.br/conteudo/11762-Temperos-substituem-o-sal-e-deixam-sua-comida-muito-mais-saudavel.htm#fotogaleria=14
E terminava o email propondo que quem já estava sugar free, podia também ficar salt less!

Na realidade, manter o sabor é mais fácil que a gente imagina.  “A substituição do sal por outros temperos naturais dá novo gostinho às preparações e ainda por cima promove uma onda de boa saúde."

E aí vira uma viagem:  cebola, alho, sálvia, manjericão, salsa, alecrim, pimenta, coentro, estragão, hortelã, menta, louro, orégano, tomilho, açafrão, gengibre, fines herbes ...  Gêisa já achou até limão desidratado no supermercado.

O legal é que fica uma riqueza de sabor que a gente acaba achando uma bobagem aquela coisa sempre sem variação de colocar sal em tudo.

Experimenta pra você ver.




 

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

DNA em Filho Homem - 125



Meus amigos blogueiros vivem se derretendo pra maravilha que é ter filha.  Outro dia, Maurilo era puro mel com a Sophia dele de um jeito que a gente fica com o olho cheio dágua.  Vai aqui e veja se você não me dá razão.  Quando Bella, filha da Renatafez aniversário, foi outra sessão de rasgação de seda. 

Eu mesmo choro à toa quando minhas meninas me reservam dengos.  Ciça, por exemplo aqui, mantem sua doçura mesmo quando é sarcástica.  Lisa, foi a primeira a me dar força quando a bomba estourou.

Agora, Diogo é o ogro mais adorável que você pode imaginar.  Mas é ogro até o caroço.  Renata também foi pega de surpresa quando falava do sufoco pra fazer o Léo estudar.

Mas parece que é questão de DNA. 

Bárbara, vizinha do Tomás, estava fazendo aniversário outro dia.  A coisa mais bonitinha do mundo, sempre de saia rodada, rosa.  Acho que ela não se suja nem na escola, de tão linda.
Aí, claro, ela escolheu como tema da festa “A pequena sereia”.  E pediu no convite rosinha que todos viessem fantasiados do tema.

Tomás nem triscou.  Foi de tubarão!


sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Lázaro - 124



Descobri, dia destes, que eu estou com uma turma de amigos com medo de vir me visitar.

A primeira manifestação desta loucura foi Rachel Horta.  Rachel tinha dividido escritório comigo uma época e Lisa, minha filha, havia trabalhado com ela na Mapa Digital.  Rachel prometia, não vinha, prometia, não vinha de novo.  Até que Lisa abriu o jogo:  ela está com medo!

Liguei, dei-lhe um esculacho, e ela apareceu.  Quando ela chegou, eu estava esperando deitado, debaixo do cobertor, gemendo.  Ela já estourou de rir, ainda no corredor, sabendo que eu estava de sacanagem.

Esta semana eu estava no centro e, como Edmundo mora no Ed. Automóvel Club, liguei pra ele.  Não atendeu.  Ed foi meu braço direito na Alterosa e depois meu chefe quando dei aula de Eventos no Turismo da PUC.  Já estava esperando o táxi pra tomar rumo de casa quando, tchan tchan tchan tchan: do nada Edmundo se materializa na minha frente.  Rimos feito dois idiotas, ele me abraçando, me beijando, acabamos subindo pra casa dele.  Colocamos a vida em dia, quando ele me soltou esta pérola:
-  Eu e Boni Fácil estamos marcando há um tempão pra te visitar mas a gente estava com medo.

Acho que o povo espera me encontrar um caco, me arrastando, lambendo embira, um trapo humano...  Aí eu entendo a acidez de Márcia Cabrita na Isto é, que eu falei com você há uns dias atrás.

Gostaria, portanto, de deixar claro a quem interessar possa.  Eu estou lindo.  Quem ainda não veio me ver, está perdendo.  Precisa marcar não.  É só dar uma ligada e pronto.  Ou então nem precisa aparecer.  Marca em um botequim e eu encontro você lá.

Escondido da Gêisa, il va sans dire...


quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Peso x Altura - 123






Eu sou filho de soldado.  Lá em casa, todo mundo estudou no Colégio Militar.  Menos eu, que ia ser padre e fui estudar no Loyola [1]. Dois, dos cinco irmãos, seguiram carreira militar.  Cuca e Nando.  Falei do Nando com você quando eu saí da UTI.

Uma vez, ainda servindo na Academia, o Exército baixou uma norma [2] recomendando uma relação peso x altura que fugia um pouco dos padrões nada habituais do Nando, um gigante pra mais de dois metros.  E aí, obediente, ele dana a correr todo final do dia para chegar nos níveis desejados pela Força.

Um dia, suando em bicas, Nando cruza com o comandante da AMAN que, vendo o esforço dele, fez troça:
-  Perdendo uns kilinhos, Coronel?
E o Nando sério:
-  Não, General, é só crescer mais um meio metro fica tudo certo...

Acho que foi inspirados nesta questão de peso x altura que, outro dia, Zé Augusto, meu personal nefrologist, e Vivian, minha personal Chief Nursing Office, vieram, solenes, em minha direção, me falar sobre 20 minutos diários a mais de diálise.  Eu ia precisar de fazer as sessões com 4:20 horas, que me dariam uma hora a mais na semana.  Ou então, como dizia o Nando, crescer meio metro, se é que você me entende.

É que a eficiência da diálise é medida por um indicador da uréia, chamado KTV, que idealmente tem que se manter sempre superior a 1,2 e que, no meu caso, mal e mal, chegava a um.

Eu aqui, todo me achando, que estava lindo com meus 30 kilos perdidos, tenho que agüentar Zé Augusto e Vivian rodeando pra me falar que eu preciso emagrecer mais.

É mole?


[1] Papai perdeu a paciência com minha vocação quando tomei bomba em religião.  Fala sério:  era muita cara de pau, essa minha...  Daí fui pro Estadual da Serra e depois pro Central.  Aí, no Estadual, minha vocação não resistiu...

[2] Ou portaria, ou recomendação, ou qualquer outra coisa cujo nome técnico não tem a menor importância para a história que conto aqui.