domingo, 29 de agosto de 2010

À moda do chef - 105


Uma vez vi, em uma entrevista, Leonardo Boff[1] dizer que, quando ele estava almoçando com a família ou com amigos, todo mundo estava dando comunhão pra todo mundo.  Mesmo que não se seguisse exatamente os rituais a que estávamos acostumados a assistir durante um ato da liturgia católica.

Foi mais ou menos assim que eu me senti quando vi o entusiasmo do Ives, levando o caldo de costela pra nós.  Um gesto de comunhão.

No comentário do post 104, Ives cita Emanuel Araújo e diz que “Cozinhar é uma forma afetiva de cultivar amigos. E mais que a gula, é um ritual de doação.”
Só pra você ter uma idéia, Ives conhecia Paulão desde final dos anos 70, quando cozinhava com amigos comuns.

Ives não cozinha pra.  Cozinha com.  Cozinhar pra ele é compartilhar afeto.  O tempo todo ele falava comigo, entusiasmado:
-  Vamos celebrar a vida, Paulinho!
Eu já tinha falado com você de uma história engraçada que aconteceu comigo.  Mas muito antes disto ele já era um figuraça.
Aí, você me pergunta:  O que este seu personal chef de cuisine tem a ver com a NefroRede?
Eu te digo:  Ives NÃO É MAIS um paciente renal.  Mas continua solidário até o pescoço.  Costuma ir nas clínicas de hemo por onde passou para contar da experiência dele[2].
Fez muita questão de criar uma receita que fosse excepcionalmente saborosa, e que pudesse ser consumida por nós, pacientes renais.

Gláucia, irmã da Gêisa, trabalha com restaurante.  Teve que sair mais cedo e ficou com vergonha de pedir uma prova, antes dele começar a servir.
Resultado:  como ela é do ramo, sabe identificar os sabores pelos cheiros.  Acabou sonhando com o caldo, mesmo sem ter provado.
Agora fala se ela não acabou comungando conosco, assim mesmo?

Você vai ver, pela receita, que Ives, além de extremamente talentoso e generoso assim, é discreto como bom mineiro.  Quase não dá pra ler as coordenadas no papel dele[3].  
Mas eu conto pra você:  
-  celular dele: (31) 9875-6068
Lá vai a receita:
  
   

   
 
 
 


[1] Não sei o termo técnico, mas ele tinha acabado de ser impedido de dar comunhão. 
[2] É que Ives foi um péssimo paciente.  Mandavam ele ficar quieto em casa, esperando, e ele lá, fuçando, pressionando. Arrumando coragem onde ele achava que não tinha mais.  Hoje ele está aí, com rim transplantado, creatinina sob controle, mas não deixa de olhar por nós também.
[3] Corre no http://asagadevalente.blogspot.com/2010/08/moda-do-chef-105.html , que a receita está lá, escaneada em alta resolução

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Singularidade - 104



Tudo bem.  Eu admito!
No começo, o que eu tinha na cabeça era resolver o MEU problema.
EU precisava caminhar e não tinha o menor saco pro negócio.
E como a única coisa que me move na vida é celebração, eu tinha que inventar um jeito de celebrar.
O conceito das Voltas nas Praças começou assim.  Uma desculpa pra celebrar.

Mas aí, na Lagoa Seca, vi nascendo uma coisinha singela mas, se germinar, pode dar um rock danado: a troca de figurinhas dos estudantes de Educação Física com os estudantes de Enfermagem.  Tudo por causa da nossa singularidade.

Não sei com os outros pacientes renais que estiveram lá.  Mas comigo, não tinha um minuto, nas minhas passadas, que eu não tivesse um personal alguma coisa a dois passos de mim.  Ou era educação física ou enfermagem.

Tudo por causa da nossa singularidade.

Nós não éramos um grupo.  Nós éramos cada um.  A gente não respondia do mesmo jeito, que nem nas academias, que é só o professor falar: Vamos lá e todo mundo já sabe o que fazer.

Teve uma hora que a gente foi alongar a panturrilha.  Cadê que eu conseguia segurar a ponta do pé, apoiado no ombro do vizinho!
Nem amarrado.

Aí eu acho que este tanto de singularidades reunidas mostrou pros dois times de futuros profissionais que estavam nos apoiando a força que tem a competência no acolhimento.  É ali que eles farão diferença.

De duas maneiras.  Uma, que a atenção às singularidades significa oportunidade profissional.  Em um mercado como este, disputado até o caroço, deve estar cheio de oportunidades que ainda não se prestou atenção.
E a outra, que a atenção às singularidades exige competência pra usar todas as ferramentas disponíveis no cinto de 1001 utilidades que sua experiência foi guardando pra você.

Tomara que este pessoal continue pensando juntos, em busca de oportunidades que melhorem a vida de todo mundo.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Edição Extraordinária 23 - Só love

Toninha, que aliás não foi,
pediu que eu contasse pra ela.
Pois é.  Inenarrável.
Depois vou transformar cada foto destas numa postagem.

Tudo do jeito que a gente queria.
Lua linda, noite amena e nós na fita.
Aí começou a chegar gente de todo lado.
Renato, tadinho, personal mesmo dos NefroRunners,
passou, distraído, na hora,
e assumiu o alongamento de todo mundo, animadinho que só ele.


E lá fomos nós, pela praça.  Só eu, dei duas voltas,
acompanhado do meu personal physical education student, da turma da Cláudia Barsand na PUC.
Quando eu já estava achando
que a volta não ia terminar nunca,
juntamos todo mundo pra foto oficial.
Chef Ives, meu personal chef de cuisine,
explicou pra gente dos cuidados pra preparar
o caldo de costela specially for pacientes renais.


A receita já vem, calma...
  
Faltam ainda as fotos dos alunos de Enfermagem do Senac, que foram nos dar apoio. 
E de Fábia aka Zita que nos preparou uma surpresa esperando cada um com uma rosa. 
Fiquei me sentindo o próprio Carruagens de fogo!
  
Este post foi só pra acalmar o pessoal me cobrando.
Depois vou contar tudo, tim tim por tim tim.
É nóis, véi!!!

  
  
©  Photos by Adríola Whatever Mídia

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Edição Extraordinária 22 - Sem mais

Sem mais para o momento, somos,

Atenciosamente ,

NefroRede

sábado, 21 de agosto de 2010

O bom, de veras - 103



Fazia algum tempo que eu não mexia com evento.  Tudo bem, a gente acaba nunca perdendo a embocadura.  Mas, rapá, eu sempre fui dador de ordem.  Tinha sempre uma reca de gente pra tornar meus devaneios mais ou menos concretos.

Você não faz idéia a falta que faz um, unzinho que seja, estagiário.  Mesmo que fosse estagiariozinho.
Coisa boba, tipo entregar um ofício na PM parecia um empreendimento dantesco.  Até porque, na briga contra o relógio, eu cheguei na praça Marechal Floriano, 1 pras 5, e fui informado que não era lá.  Era com o major comandante do 124º, lá na rua Yucatan[1].
Igualzinho acontecia com meus estagiários, nos eventos que eu produzia...  Onde, raios, é a rua Yucatan?

Mas acabou que ontem eu entreguei todos os documentos na Prefeitura, onde o povo se desdobrou  em delicadezas comigo, acho que pela ferrugem nas minhas engrenagens.  A I Volta da Lagoa Seca na Lua Cheia está produzida.

A única coisa que me deixou meio inseguro foi a falta de algum apoio de saúde, que eu acabei não conseguindo mobilizar.

Aí, sabe o Marcos, lá da hemo, que se autoelogiou falando que era bom com força no Ele é o bom, outro dia?
Disparado, meu protegido, ele.

No melhor espírito NefroColetivo, Marcos arrebanhou meia dúzia de uns dez colegas do curso de Enfermagem que ele faz no Senac e convenceu o povo que isto era uma incremento significativo pro currículo deles.
Terminou que o Marcos conseguiu garantir os colegas dele, todos de branquinho, estetoscópio a tiracolo, aferindo[2] a pressão da multidão que deve se aglomerar na Praça da Lagoa Seca, dia 24, lua cheia, de 20 às 21:30.

Mas mesmo se não rolar multidão, pelo menos eu, você e o Marcos, a gente já faz um agito bom.
 
 

[1] Ninquém no mundo conhece esta rua.  Sorte que eu lembrei que tinha ido nela, num aniversário do Durval Guimarães.  Depois te conto uma história dele.
  
[2] Por favor, não cometa a gafe de pedir para um deles tirar sua pressão.  Se ele tirar sua pressão, você, sem pressão, morre.  A palavra é aferir, ou medir.  Mas tirar, por favor, essa não...

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Edição Extraordinária 21 - I’m impressed

    
Toda vez que eu vou em algum dos meus médicos, é briga na certa, lá em casa.  Quem me acompanha, seja Gêisa  ou os meninos, sempre faz cara de reprimenda quando eu, diante da pergunta de como vão as coisas, respondo:
-  Estou lindo!

Ou é Gêisa que reporta que eu não consigo subir um lance de escada sem arfar, ou um dos meninos dizendo que eu não reclamo mas na verdade tem alguma coisa sim.

Esta semana eu terminei meu périplo.  Primeiro foi MariLou me entregando os resultados com a cara boa, como eu falei no post do Feliz aniversário.  Quando eu passei no Leco, ele me confirmou a impressão que eu estava de que a presença da palavra ausência nos relatórios da tomografia queria dizer coisa boa.  Hoje foi a vez do Xande.  A frase “I’m impressed” é o comentário dele olhando os resultados dos exames.

Se você fizer questão, vem cá em casa e eu te mostro o resultado.  Eu continuo não entendendo blicas.  Mas meus três personal doctors supracitados me disseram que não tinha mais nenhum sinal.

De todas, a que eu gosto mais é esta aí embaixo.   Olho e penso na música do Chico que fala:
Ó metade de mim!
Ó metade arrancada de mim!
Vejo o Valente, a metade de mim, e o vazio que a metade arrancada deixou em mim ...

De qualquer forma, estou adorando conhecer o Valente.  Ele agora é real, com identidade e tudo.
E no detalhe, a notícia boa, que impressionou nós todos que acompanhamos a história mais de perto:  nenhum sinal do tumor que nos assustou tanto, há um ano atrás.

Que Deus continue me protegendo.
 
 

Detalhe da tomografia, com o Valente sem vestígio do tumor


terça-feira, 17 de agosto de 2010

O espírito NefroColetivo - 102



Sempre que eu invento minhas modas, fico com medo de duas coisas.  De neguinho colocando olho gordo e de neguinho que senta e fica esperando que todo mundo faça as coisas por ele.  Fernando Fabbrini[1] recomenda que a gente responda pra essas figuras que em vez de ajudar ficam só demandando:
-  Acompanha fritas e refrigerante, senhor(a)?
Quase sempre a pessoa se toca...

Por outro lado, o que compensa e paga, fácil, este medo, são as figuras que, do nada também, se sabem donos do projeto. 
É pura anarquia, no sentido filosófico do termo.

Ives é doido.

Encarnou como ninguém o espírito NefroColetivo.  Liguei pra ele pra ver como a gente ia fazer, como a gente ia ratear, enfim, essas coisas de produção... 
-  E aí?, falei eu no telefone.

A primeira pergunta dele:  Você está esperando quantas pessoas?
Como está sendo o primeiro, não tenho a menor idéia.  Chutei umas cinqüenta.  Mas pode dar mais, pode dar menos...

Ives falou:  tá! 
-  Tá o quê, meu fio?

O resto é tudo problema dele.  Ele vai comprar as coisas, levar o panelão com o caldo de costela pronto, preparar a receita pra ensinar pra gente, levar os copinhos...  Que eu podia deixar a bola com ele!

O NefroColetivo é pra ser assim.  Não é de ninguém.  É de todo mundo.
Pode dar errado?  Claro que pode.
Mas, quando dá certo, é legal de fazer chorar...



Este post de hoje é em homenagem a Gregório Baremblit, psicanalista argentino que me ensinou sobre grupos operativos e análise institucional.  Don Gregório ficava sempre olhando pra mim, rindo.  Uma vez ele disse que eu usava o humor como um dispositivo muito eficiente.
Acho que ele estava me elogiando...


 
[1] Fabbrini uma vez me deu uma das mais importantes lições da minha vida.  Diz ele que só trabalha onde dá complexo de culpa.
-  Eu aqui, fazendo este trabalho legal, e este povo ainda me paga...?
Graças a Deus, desde a Meta Propaganda, meu primeiro emprego com o Almir, sempre me senti assim, por onde trabalhei!


domingo, 15 de agosto de 2010

NefroColetivo - 101



Uma vez nós fizemos lá em casa uma festa reunindo gente do Brasil todo.  Veio gente de Brasília, do Rio, de São Paulo, de todo canto.  A regra era clara[1].  Cada um era responsável por qualquer coisa que achasse relevante. 
-  Onde que eu vou dormir?
Liga pra alguém e pede guarita.
-  Aqui não está meio sujo?
Tem razão.  Pega uma vassoura e varre.
-  Xi, o gelo acabou...
Aproveita que você deu a idéia e corre no posto e compra mais.
-  Um cafezinho agora não iria bem?
Boa.  O pó tá na latinha de tampa laranja.  Faz lá pra nós.

Quer dizer, ninguém tinha a responsabilidade de ficar resolvendo coisa pros outros.  E foi sensacional.  Todo mundo colaborou e todo mundo se divertiu a mais não poder, sem sobrecarregar ninguém.

A história da I Volta da Lagoa Seca está ficando do jeito que eu gosto.  Ninguém manda, ninguém é dono, tudo é de todo mundo.   Isto porque eu acredito firmemente que a iniciativa é o grande diferencial de projeto coletivo.  E que a festa só fica legal se for de todo mundo. 

Esta é que é a base do NefroColetivo.

Tanto que o Meu Sítio chama assim pra você não chegar lá achando que está indo pra um hotel 5 estrelas[2], pra ser servido.  Ta indo pra colaborar em tudo que precisar.
É isto que faz dele um lugar genial pra gente compartilhar.

A I Volta da Lagoa Seca começou como uma gracinha da Adriana, filha do Cuca.  Aí chegou Talitha, minha personal social assistant, mobilizou as clínicas de nefro de BH e acabou colocando todo mundo envolvido.  Aí chegou a Mônica, presidente da APRESC[3], que, além de se propor a cuidar da divulgação com a imprensa, já arrumou um ônibus patrocinado pra levar quem não tivesse condições de chegar até o local.  Aí chegou a Cláudia Barsand, do Centro de Referência do Deficiente Físico, mobilizou toda a Prefeitura, até que chegou na Artemisa, da Secretaria de Esportes, que já marcou uma conversa minha com a Regional e está articulando patrocínio pra nós.

Quando eu pensei que não faltava mais nada, me aparece o Ives, assumindo o posto de meu personal chef de cuisine.  Resolveu levar caldo de costela pros pacientes renais crônicos. 
Ives, se você não lembra dele, corre e lê o post Espelho Meu.  Ele já  fez seu transplante de rins mas continua solidário conosco.

O mais legal é que Ives vai levar um recadinho ensinando como fazer a receita sem que faça mal pro paciente renal crônico.  Quase um workshop.  E antes de você abrir esta sua goela imensa, a prioridade vai ser a gente.  Quem tiver os rins funcionando bem, graças a Deus, e não tiver problema com creatinina, aproveita e compra um  Gatorade.  Ou vai no Me Gusta, da mulher do Digão, irmão do Diogo, e come até se fartar.

Mas o caldo de costela é pra nós...[4]


[1] Como diz o Arnaldo César Coelho
  
[2] Tá bom.  3 estrelas e não se fala mais nisto...
  
[3] Associação dos Pacientes Renais da Santa Casa
  
[4] Este post já veio do Meu Sítio pronto, antes do comentário da Regi, no 100.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Atenção INSS - 100


Dia destes tivemos a visita na hemo de uma equipe do INSS pra falar de nossos direitos e deveres como pacientes renais crônicos.  A conversa foi superbacana.  Os técnicos estavam com o discurso afinadinho, respondiam às perguntas de todo mundo e, o que me surpreendeu mais, falavam de lei e de burocracia com uma leveza e uma objetividade que acabaram capazes de se fazer entender por todo mundo ali naquele grupo.

E olha que nosso grupo é a pirâmide social brasileira.  A falência dos rins não escolhe muito nada.  Vem ceifando, de cabo a rabo.  Lá tem fazendeiro milhonário[1], delegado aposentado, camelô, o diabo.  Só neguinho esperto... 
Pra você ter idéia, de puro deboche, o pessoal lá me chama de Marajá.

Mas voltando ao INSS.  Aí, no final da palestra, eu, apavorado, concluí que as restrições que teria, como aposentado por invalidez, me afastariam de vez, por exemplo, da sala de aula definitivamente.  E eu adoro sala de aula...
Perguntei pro caboclo se eu poderia trabalhar de graça em uma ONG.  A resposta foi curta e grossa:  Não!

Muito bem.  Gostaria de deixar claro pra esse senhor que a organização da I Volta da Lagoa Seca não vai ser trabalho pra mim.

É pura inventação de moda.

Bem verdade que está dando um trabalhão danado.  Tive que fazer reunião, fazer projeto, ainda vou fazer mais reunião, por fogo no rabo de um muita de gente,...

Mas repito:  Isto é só inventação de moda.  Não venham me acusar de estar voltando ao mercado.



ps:  Mas do jeito que eu estou com a cabeça pegando fogo, a NefroWhatever (nome sugerido pela Adriana nos comentários do Repouso do Guerreiro) vai ser uma holding que vai abrigar eventos em diversas áreas.  O primeiro é o NefroWalker da Lagoa Seca dia 24.  Vocês não perdem por esperar!
  
  
 



[1] Eu sei que milionário se escreve assim.  No caso dele, fez fortuna plantando milho.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Sabatina - 99


Lá fui eu, apreensivo.  
Talitha, minha personal social assistant, tinha armado uma apresentação do projeto da I Volta da Lagoa Seca na Lua Cheia para o NAS-Nefro, o núcleo das assistentes sociais das clínicas de Nefrologia de Belo Horizonte.

Pra piorar minha situação, cheguei 40 minutos atrasado.  Já na portaria da Santa Casa, quando eu perguntei onde era a reunião, a recepcionista devolveu, na lata: 
-  Você é o Paulo?
Devia estar todo mundo avisado, imagino que de tanto esperar...

Quando entrei  na sala, umas duas dúzias de olhos viraram pra porta.  E eu lá, morto de vergonha.
Estava com o mesmo pavor de quem entra em uma prova oral.  Valente me olhava de longe, procurando por onde andava aquele cabra macho que estava acostumado a ver.  Tinha virado uma franguinha, o menino...

Estavam lá as assistentes sociais da Baleia, do Hospital das Clínicas, do São José,  do Instituto Mineiro de Nefrologia, da Clinenge, da Cenenge, do Hospital Evangélico e a Talitha, do Núcleo.
De quebra, ainda estavam Mônica, presidente e Tyssinho[1], secretário geral do Renalmig[2].

Mas durou 3 milésimos de segundo.  Rapidinho, parecia que a gente era amigo de infância.

Falei deste e dos outros projetos que eu tinha pensado.  A idéia de arrumar 7 praças planas veio da preocupação de Mônica do projeto ser mais inclusivo e facilitar o acesso pra todo mundo.  Até o nefrologista chefe da clínica da Santa Casa quis participar...

No final, a gente tinha virado parceiros entusiasmados com a possibilidade de andar promovendo saúde e qualidade de vida com os pacientes renais crônicos.

Parece que a coisa ficou mais séria do que a brincadeira que eu achei que eu ia fazer no início.  Está virando um movimento mesmo.

Legal, né?

Anotaê.  Dia 24 de agosto, lua cheia, 20:00, na Lagoa Seca.  Do lado do BH Shopping.  Se você chegar antes, vai dando suas voltinhas.  Mas vá, como simpatizante, pra idéia pegar fogo logo.
 
  
 



[1] Acho que o nome era esse.  Por via das dúvidas, achei mais prudente ficar com medo dele...
[2] Será que não esqueci de ninguém?

domingo, 8 de agosto de 2010

Feliz Aniversário - 98


Hoje faz exatamente um ano.  Foi na véspera do Dia dos Pais do ano passado que Gêisa leu, sozinha, o resultado dos exames que Xande, meu personal urologist tinha pedido.  Engraçado que até então eu não sabia que MariLou era a referência de BH no ramo mas queria que ela fosse minha personal radiologist e que fizesse meu exame.

Por uma agradável coincidência, Leco, meu personal oncologist, pediu que eu refizesse uma ressonância esses dias pra ver a evolução do quadro e se valia a pena continuar com o Sutent, que estava me fazendo um estragozinho pequeno, mas incômodo.

A agradável coincidência é que eu fui buscar o resultado justo na véspera do Dia dos Pais.

Acho que MariLou vai tomar bronca dos chefes dela.  A impressão que me deu é que ela fez um serviço muito maior que o pedido pelo Leco.  O resultado vem em mediquês, incompreensível pra nós normais.  Mas o sorriso dela, quando se despediu de mim, foi a maior injeção de ânimo que eu já tive neste processo todo.  Foi a primeira consulta com torcida da história da medicina.

Na tomografia do tórax, a palavra “ausência” aparece um punhado de vezes.  No segundo exame, que eu fiz pela primeira vez, o relatório fala até em próstata e vesículas seminais sem indícios de alterações.  Achei o comentário meio íntimo demais, mas preferi deixar pra lá.

Não entendi blicas.  Mas o sorriso dela, quando sai da consulta, tinha zero de apreensão.  Gostei mais desta parte.

Agora vou marcar consulta com Leco e com Xande, que gosta de acompanhar de perto minha história.

Isto significa que eu e o câncer estamos conseguindo manter uma respeitosa distância, um do outro.  Significa também que, mesmo estropiado, Valente não entrega os pontos e vem fazendo sua parte com galhardia.

Mas significa, sobretudo, que enquanto eu tiver MariLou, Xande, Leco, Gêisa e meu povo do meu lado, fica muito mais leve aceitar a recomendação do ZéAlencar, de que, sempre, vai ser tudo como Deus quiser...

O post de hoje, que foi o presente de Dia dos Pais mais legal que eu já ganhei, vai dedicado ao Leco, ao Xande e à MariLou, pelo carinho e pela torcida nesta história toda.  O empenho deles tem ido muito além de qualquer coisa que Hipócrates poderia ter esperado.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Edição Extraordinária 20 - Minha chapa está esquentando


Nando sempre foi meu maior concorrente.  São dois metros de puro açúcar.  Ele e Ione enchem todo mundo de dengo.  Ciça então, a preferidinha, foi a única escolhida pelo Dão pra madrinha de casamento, entre as primas.
Aposto que teve lobby do Nando nesta história...

Mas como ele mora em Resende, minhas chances de sucesso seriam maiores[1] de ser o preferido, disparado.
Só pra abalar minhas estruturas, Lisa, a do meio, adora me ameaçar quando Nando pinta no pedaço.  Ele inventa cada delicadeza com mamãe que me deixa arrasado.  Coisinha boba, mas que eu só lembro de fazer depois que ele faz.  Tipo fazer mamãe descer até a garagem e sair de carro passeando pra ver a lua.
Quer dizer, depois que ele faz é que eu lembro.

Minha chapa começou a esquentar quando o tal grandão glacê resolveu despencar de Resende aqui, trazendo mamãe, que ficou na casa dele depois do casamento do Dão.  Quer dizer, vai voltar apaixonada...  Maria Elisa fica só rindo, vendo meus ciúmes me corroendo de maneira indisfarçável.

Apesar de tudo, aí vai, pra você conhecer o tal.  Entra no http://www.youtube.com/watch?v=JCpyNOHPL_0 .  
No filme ele vem duro, já quase no finalzinho.  A única coisa maior do que Nando é o Dão, o noivo, que vem logo atrás, se achando, só porque Fernandinha é uma gata.

Vocês perderam...

ps:  quando o filme chega no 2:10 a noiva não se contém e se atira nos braços do homem mais bonito da festa.  Adivinha quem, adivinha?




[1] Tivesse eu um pouquinho mais de atenção com mamãe.


terça-feira, 3 de agosto de 2010

Edição Extraordinária 19 - Hiperativo



Tomás enlouqueceu em Penedo.  Apesar da Tia Lisa lembrar a ele, o tempo todo, que desculpeeutefalarsobreisto,masvocêsabequePapelNoelnãoexiste... era muito complicado pra a criança se confrontar com aquela dualidade.  O velho ali, a possibilidade de presente ali, contra uma simples cartinha e o compromisso de ser bom menino o resto do ano, mas ele não existia, o velho Noel...

Vai passar um bom tempo da vida deitado em divã, tadinho, até entender a história direitinho.

Mas o menino enlouqueceu.  Saía repetindo a história, que o Papai Noel só tinha duas casinhas no mundo, uma na Finlândia e a outra ali, e que era por isto que tinham dois trenós, e que ele já estava fazendo os presentes deste ano, e que este ano ele era capaz de vir cá em casa.

E Gêisa lá, chamando o menino pra vir embora.  Por ele, Tomás dormia na casa do Papai Noel, em Penedo o resto da vida...

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Edição Extraordinária 18 - A caminho de Paris


Tomei coragem!
Eu andava me borrando de medo de afastar do meu porto.  Falou que era pra sair de Belo Horizonte, eu inventava mil desculpas.  Igual mamãe faz com a gente.  Confirma tudo, marca tudo, mas, na hora, acabava lembrando que tinha que comprar leite, ou outra desculpa mais esfarrapada ainda.

Semana passada foi o lançamento do livro do Marcelo em Ipanema, MG, pertinho de Caratinga.  Tinha homenagem da prefeitura, jantar, estadia 0800 na fazenda do Guguta...  Cadê que eu era homem...  Me derreti em mentiras e Marcelo só rindo, já que ele me conhece até o caroço.

Mas afinal, sábado, 31, teve o casamento do Dão, filho do Nando, em Resende.  Até mamãe esta indo.  Tomei coragem.  Festa perfeita.  Tudo redondinho.  Acho que eu ia morrer, se não fosse.

Conhecendo minhas manhas todas, Gêisa, ardilosa, programou nossa volta passando pela Catedral de Nossa Senhora Aparecida.  Chorei da hora que entrei até a hora que saí.  É impressionante mesmo ver a devoção de todo mundo ali, contrito.

E acabou que, no final das contas, a viagem foi perfeita. Saímos de Resende onze da manhã e chegamos em casa 3 da madrugada, depois de 2 baita engarrafamentos na Fernão Dias.  Eu, todo ansioso, esperando problema, e tudo correndo bem, mesmo quando dava errado.
Estou cada vez mais perto de Paris...