quinta-feira, 29 de julho de 2010

Quebradeira - 97

Você não faz idéia, bacana!  Estou vindo do Centro de Referência do Deficiente Físico da Secretaria de Esportes da Prefeitura.  Conversei um tempão com a Cláudia Barsand.

Eles vão dar apoio total à “Primeira Volta da Lua Cheia na Lagoa Seca”.  Só pra paciente renal, hemoglobina baixa, mobilidade reduzida e simpatizantes.  Quer dizer: todo mundo. 
Igual a Volta da Pampulha.  Só em formato mini, já que meu povo gosta mais de percurso “short run”[1].

Mas isto foi o de menos.  O legal é que o lugar é maravilhoso.

Primeiro, porque o Centro recebe e apóia QUALQUER deficiente. Falou que tem alguma deficiência e quer praticar esporte, lá é o canal.
Segundo, porque se você acha que é corajoso, lá é que você encontra doidão com força.

Só pra ter uma idéia, tem time de paraplégico que joga rugby. Exatamente, aquele esporte em que o pau come solto.  Nada de fairplay.  Cláudia fala que, de repente, vira uma cadeira em cima da outra e o jogo continua, normal...  E eles ganhando medalha paraolímpica.

Tem basquete, futsal, judô, natação, hidroginástica, goalbol, patinação, vôlei, ping-pong, bocha, dança e atividades recreativas. De segunda a sábado, tem dia que vai até 22:00 e sábado até 14:00.

Se você for da minha turma e quiser conhecer, o endereço e Av. Nossa Senhora de Fátima,2.283.  O telefone é (31) 3227-4548.  É um murão verde, quase na entrada da rua Padre Eustáquio.

Ah, já ia esquecendo.  Claudia vai levar esse bando de guerreiros com ela pra caminhada.  O que me deixa numa saia justa:  vou ter que dar pelo menos umas duas voltas na Lagoa Seca, pra não fazer feio.

Agora, fora de brincadeira.  O primeiro evento já está garantido.  Ela já articulou com a Secretaria Municipal de Saúde pra ter uma tenda pra medir pressão, vai garantir a sinalização do local, mó produção

Marca aí na sua agenda, pra você não esquecer:  24 de agosto, terça, na Lagoa Seca, de 20:00 às 22:00.  Ali, do lado do BH Shopping.

Agora é preparar para a lua cheia de setembro.





[1] Não sei se existe.  Acabei de inventar.

domingo, 25 de julho de 2010

Formou! - 96



Gêisa hoje ganhou sua terceira medalha de corrida de 5 km.  E eu, que não agüentava de ciúmes, fiquei me coçando, querendo arrumar um jeito de ganhar minhas medalhazinhas.  Ainda bem que quando eu falo que Belo Horizonte é uma azeitona, você acha que é exagero meu.  Mas brincando, brincando, está organizada a Primeira Caminhada da Lua Cheia, só pra pacientes renais crônicos, cadeirantes, deficientes físicos e simpatizantes[1].

A história começou quando eu vi o site dos nefrorunners, um bando de nefrologistas que corre maratonas, ironman, essas coisas.  Um deles, Fernando César, é médico do Núcleo.  Pedi uma reunião com ele e já fui logo dando uma bronca.  Que não tinha a menor graça eles ficarem fazendo essas corridas intermináveis e eles tinham que arrumar um jeito que nós, pacientes renais pudéssemos conseguir concluir o percurso.  Eu lá, brigando, e o Fernando rindo, adorando a idéia.  Chamei a Talita, minha personal social assistant, e a gente vai mobilizar todas as clínicas de hemodiálise de Belo Horizonte, convidando todo mundo pra fazer parte do movimento. 


Lisa, minha filha, vai fazer treinamento com o Renato, o preparador físico dos nefrorunners, e com isto eu ganho carona pra caminhar à noite no Belvedere.

Aí, conversando com Flavinha, minha irmã (mesmo), ela me falou da Cláudia Barsan, professora de educação física da PUC, responsável pela cadeira pra deficiente físico.  Como a lua cheia de agosto vai dar numa terça, dia que ela tem aula, Cláudia já está pensando em ir com os alunos pra dar apoio técnico pra nós.  De quebra, ela trabalha no Centro de Referência do Deficiente Físico da Prefeitura e se propôs a organizar uma conversa nossa com o Secretário de Esportes.  Da minha parte, vou pedir o Boni pra me dizer quem eu devo procurar para incluir este movimento como uma atividade de extensão da PUC.

Duda vai, empurrando Henrique na cadeira.  Xande, meu personal urologist, é corredor.  Leco, meu personal oncologist, é corredor.  Diana, minha personal nutricionist, é corredora.  Se Marcelo topar, vou empurrando ele na cadeira de rodas.  Provoco Paulinho Muleta e Katinha vai junto. Quer dizer, formou!  Sucesso garantido.

Aí, toda noite de lua cheia a gente repete a Volta da Lagoa Seca.  Uma atividade que nós, doentes renais conseguimos fazer na manha...

Depois é só desdobrar as atividades.  Nefroreggae (uma idéia que começou com uma brincadeira do Maurilo e que tem chance de virar coisa séria) será uma banda só pra menino que faz hemodiálise.  Nefrodancer é uma noite que a gente vai dançar em alguma gafieira de Belo Horizonte.  Na Nefrotalent, a gente vai arrumar um palco pro seu Zé[2] se exibir.  E vamos inventando moda, pra essa vida nossa ficar bacana.

Anota aê na sua agenda:  24 de agosto é a primeira..  Pelo menos como simpatizante você aparece.





[1] Só gente com mobilidade reduzida, peso fora do normal (ou pra baixo ou pra cima), hemoglobina baixa, esse tipo de coisa.
[2] Depois eu falo sobre ele

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Edição Extraordinária 17 - Do nada...



O blog da Tom toda sexta fica o blog mais bonito do Brasil quando eles postam o “Sexta é Dia de Flor”.  Qualquer coisa, é desculpa.
Tudo bem que tem umas desculpas fantásticas:  uma hora é Mayra viajando pelo Marrocos, outra hora é coisa nova nas lixeiras de Victoria, British Columbia, Canadá, ou mesmo um arranjo displicente na mesa da Bonomi.  Sempre lindas.

Só que hoje, do nada, foi meu dia de flor.  Apareceu aqui em casa essa orquídea maravilhosa pra mim.

Veio de Fábia Zita, mulher do DJ Kowalsky e assídua frequentadora do Meu Sítio.  No Reveillon eles foram pra lá conosco.  Kowalsky levou uma carreta de equipamentos e compactos e deu um show de entrada de ano novo que vai ser difícil ser repetido, de tão legal.  Dona Gêisa se acabou na pischta. 
Flavinha do Zé levou arroz português, Léo levou umas camisas cubanas pra se exibir sob um panamá legítimo que ninguém enxergava mais nada, nem a decoração maravilhosa que Carol e Sofia produziram. 
Já, já, a gente vai começar a vender ingresso, de tão legal que a coisa fica, de um ano pro outro.

O cartão, encantador, dizia assim:
“”Paulinho,
Sei que hoje não é Dia dos Pais, nem seu aniversário, nem mesmo Dia do Amigo...
Mas que seja dia de celebrar a felicidade de ter você e sua querida família linda colorindo e enchendo minha vida de alegria, amizade, lições de união, força, delicadeza e amor.  Vocês reinam absolutos no meu coração:  AMO VOCÊS!!!
Um super beijo,
Fabiazita (e Danilo aka Kowalsky)”


ps:  Sabe-se lá porque, mas quando Diogo passa na frente da casa deles, Tomás grita:  Cabeção!
Ele e Danilo se cumprimentam por esta singular alcunha.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Ele é o bom! - 95



Depois desse tempo todo, Isadora, minha veia bailarina, deixou de estrelismo.  
É que, à medida que a fístula vai amadurecendo, a veia vai engrossando e fica mais fácil de ser puncionada[1].

E, no início, Isadora tinha causado uma certa apreensão em mim e na Claudinha, minha personnal nurse, quando ela resolvia não se apresentar.  Eu tomava um punhado de agulhadas e, travessa, a veia se divertia, escondendo da agulha.  Teve uma vez, uma só, mas inesquecível, que depois de doze tentativas a gente acabou não conseguindo pegar Isadora.  Exausta, Claudinha acabou me liberando e eu fui pra casa sem fazer a diálise.

Eu sei que, de uns tempos pra cá, a coisa passou a ficar batata.  Lili meio que domou Isadora e este mês Marcos aprimorou o processo e já faz tempo que a gente não perde um furo.  Acha a veia logo de primeira.

Eu estava lá, todo satisfeitinho vendo Marcos acertando todas, só cesta de 3 pontos, daquelas de deixar a torcida  extasiada.  Furava com a agulha, e pimba.  Sempre.  Comentei com ele da minha satisfação vendo que a coisa finalmente tinha entrado nos eixos e de como meu sofrimento era coisa do passado.

É preciso que se diga que Marcos, do alto de seus quase dois metros de altura, não perde a oportunidade de pegar no meu pé.  Sempre que eu ganho mais peso que o razoável, ele briga comigo igual mamãe fazia quando eu tinha 6 anos.  Fatinha, minha vizinha de box, racha de rir, me vendo humilde, com medo dele.

Mas aí, mantendo sua elegância, do mesmo porte que seu deboche, Marcos fala comigo:
-  Sabe o que é, seu Paulo, é que eu sou muito bom no meu trabalho.

Eu e Fatinha começamos a cantar o antigo sucesso do Eduardo Araújo, aquela do “meu carro é vermelho”.

Naquele dia, Marcos só olhava superior pra mim e pra Fatinha, se achando...



[1] Hoje eu estou técnico demais.  Mas segundo a Dra Denise Costa Dias, (http://www.unioeste.br/projetos/terapiaintravenosa/pdf/3.pdf ) que eu conheci hoje na internet, antes de puncionar, a pele deve ser puxada abaixo do local da inserção, para fixar a pele e prevenir que a veia “dance”, ou seja, que se mova.  O ângulo para a punção é de 15 a 30º.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Repouso do guerreiro - 94



Quando o Rio ganhou a disputa pra sediar os Jogos Olímpicos, Guguta já articulou comigo e com o Marcelo uma equipe pra concorrer nas ParaOlimpíadas.

Pra qualquer coisa. 

No melhor espírito do Barão de Coubertin, a idéia dele era de que a gente concorresse.  Até 2012 a gente arrumava uma aptidão com algum nível aceitável de performance.

Neste mesmo período, eu fui devagarzinho baixando meu peso com o excesso de água que eu ia eliminando na diálise, o que vem provocando a redução da quantidade do meu xixi.  Daí, Zé Augusto, meu p. n., recomendou que eu desse um descansozinho pro Valente e tomasse uns comprimidos de furosemida.  Pra você que não é da área de saúde, o furosemida é o genérico do Lasix, um poderoso diurético.

Pra você que tampouco é do ramo de esporte, foi por causa do furosemida que a Dayanne dos Santos andou banida dos esportes olímpicos.  É que ele, como efeito colateral, mascara a presença de esteróides e anabolizantes.  Quer dizer, vai que eu viro atleta olímpico, o furosemida acaba de vez com minha carreira.

Lembrei disso quando recebi um email do Alê de Guarulhos falando dos NefroRunners, um grupo de médicos nefrologistas que disputam corridas de alto desempenho.  Maratonas, triathlons, bike, etc.  Vai lá no www.nefrorunners.org que tem a história deles.

Mas a brincadeira de Guguta me deu a idéia de procurar os idealizadores do movimento aqui em Belo Horizonte[1] e ver com eles se a gente consegue montar algum programa de atividade física pra ser feita por gente que nem eu:  hemoglobina baixa, alguns quilinhos a mais, mobilidade reduzida mas disposto até o caroço a fazer alguma baguncinha.

Aí, em um segundo momento a gente lança o nefrowalkers, depois o nefrodancers, e vai por aí afora...





[1] Diz o site que são os médicos nefrologistas Augusto Cesar Soares dos Santos Junior, Geraldo Barcellos de Camargo Neto e Fernando César Menezes Assunção.  Não tenho a menos idéia de quem sejam.  Mas, com dois telefonemas a gente descobre.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Cadê o sentido? - 93



Ucho é meu concunhado.  Irmão de Mônica, casada com Rai, meu irmão desde os tempos de Cedro Cachoeira.  Mandou pra mim um vídeo que, por acaso, foi produzido pelo Pepe, meu irmão também.  É a vantagem da gente morar em Belo Horizonte.  Com duas conexões, acaba conhecendo todo mundo.

O vídeo encaixa igual luva neste momento que eu estou passando agora.  Correria pra quê?
Minha doença acabou servindo pra me ajudar a entender um tanto de coisa que já andava não fazendo sentido há algum tempo.  Custei a entender que fazer sucesso e ser competente não são necessariamente sinônimos.  Que ficar rico e ser feliz podem não ser os dois lados da mesma moeda.

Na verdade, entender que a gente perde um tempo doido correndo atrás de coisa que não faz lá muito sentido. 
Retificando: “a gente” não, porque a gente é muito gente.
Eu corri e tem hora que ainda corro.  E ando com cada vez menos disposição de correr, a não ser que faça sentido.

Pouco antes da doença, fui responsável por uma cadeira chamada Sociedade e Empresa para o MBA que o Pitágoras fez em Viçosa e depois repetiu em BH.  pra empresários de TI.  Era uma parceria com o Sucesu.  Aceitei o desafio, mas bastante apreensivo com a possibilidade do povo não se comprometer com o tema.

Foi uma das experiências mais legais da minha vida.  O grupo fazia cada questionamento sério pra dedéu sobre o papel deles na sociedade.  E a coisa acabava com eles mesmo respondendo. 
A reflexão não tinha fim...

Aí aparece este vídeo, trazendo pro chão essa discussão etérea do que seja sustentabilidade, que anda virando conversa fácil.

Por acaso, Raquel, minha linda da Dom Cabral, esteve em Itabirito e conheceu o local.  Tinham dois formatos de bolo de feijão.  Um mais redondinho e um outro parecendo um quibe.  Ela, de cidade grande, acostumada a responder por resultado, perguntou pelo motivo e se não era melhor padronizar para ganhar em produtividade..  Sábio, o Jugulal explicou:
-  É que são dois fornecedores.  Aí cada um faz do jeito que quiser.

E falou com ela, fechando a conversa com chave de ouro:
-  Se você voltar daqui a 10 anos, fia, vai encontrar tudo igualzinho está hoje...



quarta-feira, 14 de julho de 2010

No duro, no duro - 92


  
 
O Príncipe Valente adverte: Não leia esta história se você não tiver estômago forte.

Não existe nada tão ruim que não possa piorar.  Pensei nisto hoje e cheguei à conclusão que o post de segunda feira foi pura enrolação.
É que, vai entender, bateu uma crise de pudor e eu fugi do real assunto que tem me feito ficar grato ao Zé Augusto.

Com essa história de não beber água, meu cocô andava raro e duro feito concreto.  Um negócio assustador.  Cada vez que eu ia no banheiro, precisava interditar o espaço até que eu conseguisse desentupir o estrago.  Parece brincadeira mas a questão é muito séria.

Não comenta isto com ninguém.  Que fique só entre nós dois:  pois você acredita que eu fiquei com hemorróida?
E o troço dói, mas dói, a um ponto tal que a vida perde o sentido.

Mas aí, estava eu lá amuado, sem gracinha, e me dei conta também que não há mal que dure para sempre.  Eis que me aparece o Super Zé Augusto, meu personal nefrologist que me apresentou a duas pequenas maravilhas.
A primeira, Humectol D.  Como o nome sugere, umedece a, digamos assim, coisa e a ejeção fica MUITO mais fácil e menos dolorosa.
A outra, Metamucil, um composto fitoterápico, pra ser tomado diluído em um copo dágua. Fácil porque dissolve mais instantâneo que Nescau.  Só não tem gosto de festa.  Mas o sabor laranja não chega a ser ruim de todo.  Um copo depois de cada refeição e a frequência volta a ser diária.
Eu tenho só que controlar a quantidade de água que eu acabo tomando no final das contas.

Mas o resultado foi imediato.  A consistência do, quer dizer, bolo fecal voltou a ficar parecendo de massinha de modelar. 

E o mais legal, que Gêisa me perdoe.  Mas, segundo o Zé Augusto, quando contei isso pra ele, minha cara de felicidade era a de quem descrevia a mulher amada.

Zé falou que eu era o primeiro paciente dele a cair de amores por uma coisa dessas, se é que você me entende.
Nunca mais me separo do Metamucil.
  
  
  
ps1:  Agora você entendeu a história da Cristiane F.
ps2:  Acho que agora nunca, mas nunca mais, volto nesse assunto.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Sob Auditoria - 91



Zé Augusto, meu personal nefrologist, é um dos grandes parceiros que eu tenho no Núcleo.  Acompanha meu caso de perto e qualquer coisa se acerta com Leco, meu personal oncologist, com os dois sob a supervisão maior (e de perto) de Dona Gêisa, que, no final das contas, é quem decide tudo, de verdade.

Gêisa, traíra que só, vive passando relatórios pra ele.  É só eu dar um tonteirinha de nada, lá vai ela reportar pro Zé Augusto.
Que dizer, eu vivo à mercê dos três.  Leco, Zé Augusto e Gêisa.

Minha hemoglobina andou meio baixo, dia destes.  O resultado concreto disso era eu ficar exausto, a qualquer ameaça de esforço.  É uma reação mais ou menos normal quando se fala de anemia, mais ainda quando se é paciente renal.  Quando baixa a taxa, o caminho é uma injeção de noripurum e vai-se acompanhando até a coisa voltar a níveis aceitáveis.

Você, que é uma gracinha, deve ter sua hemoglobina entre 13 e 16.  No meu caso, por causa da hemodiálise, o valor de referência abaixa para qualquer coisa entre 11 e 13.

Um dia, Zé chegou com um ar anormalmente sombrio.  Minha hemoglobina estava pouco acima de 9.  Queria o telefone do Leco, pra evitar que a aplicação do remédio conflitasse com o tratamento do Sutent.  Como o noripurum tinha um componente cancerígeno, os dois acertaram em acompanhar de perto a hemoglobina, sem ajuda externa[1].

Ontem, depois de ter passado um final de semana de rei no Meu Sítio, comendo um coq au vin[2] (que foi pra panela no fogão de lenha no sábado e alí ficou até ficar parecendo carne de neve, de tão macia) e dormindo sem nem dar bola pro jogo, cheguei em BH novo em folha.

Acordei de madrugada, pois tinha ido dormir 8 da noite.  Fui ler o jornal.  Dez minutos depois, Gêisa acorda assustada.
-  Cadê você?

De manhãzinha, lá foi ela conversar com o Zé Augusto, pedindo pra ele checar sintomas, hemoglobina e mais outras cositas.  Deve ter gasto o salário dela todo no celular, fazendo a auditoria.

E o Zé, que deve estar acostumado com isto, fica rindo de mim, me olhando com um discreto canto de olho...






[1] Ajuda externa, no caso, é o noripurum.  A Gêisa, isto é fora de questão, participa de tudo!
[2] Boa idéia.  Vou pegar a receita pra publicar aqui, com o aval da Diana.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

A voz se alevanta - 90



Desde Camões[1], já estava previsto que uma coisa assim ia acontecer.  Uma hora, um valor mais alto se alevantaria e eu lá, ficaria ali, a ver navios...

Eu e Gêisa estávamos brigando por alguma coisa tão importante que eu nem me lembro mais sobre o que era.  Briga séria...
Devia ser a mania dela de me superproteger, confrontada com minha necessidade adolescente de autonomia que Ciça denunciou na história do dia que o Henrique da Duda nasceu.
Tomás tinha ficado conosco naquela noite.

O arranca rabo devia ser alguma coisa vital como sobre se eu devia ou não sair ou sobre o quanto era perigoso ou não eu ir de táxi.  Eu estava a um passo de jogar a poltrona do nosso quarto no meio da fuça dela. Enfim, uma coisa de capital importância.

É, porque parece brincadeira mas o que permitiu a gente ficar casado este tempo todo foi a mais perfeita divisão de tarefas na casa e a definição exata dos limites de cada um.  À Gêisa cabe as coisas sem importância (gerir a casa, cuidar do Meu Sítio, etc) enquanto eu fico com as decisões realmente estratégicas (se Afganistão deve ou não ser invadido, a manutenção da autonomia do povo palestino, coisas assim).  Sempre que o equilíbrio se altera, o pau quebra com força.

Aí, teve uma hora que foi demais pra mim.  Munido da cara mais brava que eu consegui e falei pra Gêisa:
-  Escuta aqui!

Fui interrompido por uma vozinha que acompanhava, imparcial, a evolução da briga, com uma cara ainda mais brava que a minha, dizendo assim:
-  Escuta aqui você, vovô...!!!

Nós dois olhamos pro Tomás e estouramos de rir.  Esquecemos do que estava em jogo na disputa.

Diz Carol que ele anda assim agora.  Deve ter aprendido a argumentar no Clic, a escolinha dele.  Tá ficando todo cheio de si...






[1] No final da terceira estrofe

terça-feira, 6 de julho de 2010

Edição Extraordinária 16 - Olha a onda!


Não tenho a menor idéia de como começou.  Só sei que o Blogspot se recusou a aceitar comentários hoje de manhã.  Só entrava na hora e na ordem que ele queria.  Era meio que uma pirraça.

Associei, no ato, a esta grande onda que assola o mundo.  Eu, Kaká, o Blogspot, todo mundo virando, sem nenhuma razão aparente, badboy.

Rodrigo do Cuca foi o primeiro a notar a tendência quando denunciou meu lado badboy se apresentando.

E aí me chegou pela net um punhado de estrepolias que eu e Kaká fizemos, fazemos ou poderemos fazer, se a gente continuar assim, sem limites:
-  Kaká jogou uma garrafa pet no lixo de orgânicos.
-  No ônibus, Kaká deu sinal num ponto em que ninguém ia descer, só pra sacanear o motorista.
-  Um dia, Kaká e a mãe brigaram.  Pra se vingar, ele saiu de casa sem dar tchau.
-  Certa vez, Kaká roubou o sinal de internet do vizinho.
-  Durante um almoço em família, Kaká arrotou na mesa.
-  Um belo dia, na escola, Kaká ficou furioso e colou chiclete embaixo da carteira.
-  Um dia Kaká falou “bunda” e não “bumbum”.
-  Numa festa de aniversário, certa vez, Kaká comeu dois brigadeiros escondidos antes de cantar o parabéns.
-  Certa vez, ao comprar uma tubaína, Kaká recebeu 10 dentavos a mais de troco e não devolveu.
-  Kaká já atravessou a rua do condomínio onde mora sem olhar para os lados.
-  Um dia a mãe de Kaká mandou ele tomar banho, mas ele entrou no chuveiro e molhou só o cabelo.
-  Kaká já foi dormir sem escovar os dentes.
-  Certa vez, Kaká usou o banheiro e deixou a tampa do vaso levantada.
-  Kaká já tomou remédio sem ler a bula.
-  Em dia insano, Kaká colou as chinelas do pai no chão com cola de madeira.
-  Um dia Kaká falou que ia “transar” com alguém, e não “dormir junto”.
-  Um belo dia Kaká bebeu água e não colocou a garrafa de volta na geladeira.
-  Kaká já tomou banho de chuva com a garganta inflamada.
-  Uma vez Kaká tocou a campainha do vizinho e saiu correndo.
-  Kaká já peidou no elevador.
-  Um dia os lenços acabaram e ele limpou o nariz na cortina.
-  Eu um ato de vandalismo, certa vez Kaká cortou o papel higiênico fora do picote
- Kaká já ficou offline no MSN sem dar tchau para seus contatos.
- Kaká entrou no show do Restart sem apresentar a pulserinha pra entrar.
- Uma vez o Kaka tirou meleca do nariz e colou embaixo da carteira do colégio.
- Em certa oportunidade Kaká atirou num companheiro de time quando jogava Counter Strike. SIM Kaká jogava Counter Strike e com terroristas!
-  Kaká nunca deu boa noite pro Willian Bonner no final do Jornal Nacional.
-  Kaká assistiu o horário eleitoral gratuito no MUTE.
-  Certa Vez Kaká saiu à noite em Milão no frio sem um casaco.
-  Uma vez Kaká alugou um filme romântico e por engano veio um pornô.  Ainda assim Kaká assistiu os créditos de abertura.
-  Na juventude, a mãe de Kaká uma vez pediu pra ele comprar presunto e ele trouxe apresuntado só pra sacanear.
-  Kaká não agita o yogurte antes de tomar.
-  Kaká bebe água da geladeira no bico, escondido da mãe.
-  Kaká come sucrilhos antes do jantar.
-  Kaká, quando pequeno, brincava de médico com as primas.
-  Kaká batia na carteira (toc, toc) só pra professora ir na porta pra ver quem era.
-  Kaká brigou com a avó e quando ela bateu na porta do quarto pra pedir desculpas, ele ficou quietinho pra ela pensar que não tinha ninguém.
-  Kaká mandou o Mick Jagger torcer pro Paraguai só pra Larissa Riquelme não mostrar mais nada e ir pra casa.
-  Certa vez, Kaká apertou o botão SOBE do elevador...  Ele queria descer.
-  Aliás, Kaká aperta TODOS os botões do elevador quando desce.
-  Kaká ficou revoltado com a mãe que o obrigou a comer brócolis no jantar e foi dormir sem dar boa noite pra ela.
-  Uma vez Kaká entrou  no MSN com o emoticon de bravo.
-  Kaká já furou fila da merenda na escola.

E, como toda boa tendência, a coisa está assumindo proporções assustadoras.

Não sei onde isso vai parar...  Mas estou adorando!


Estrepolias - 89



Tudo bem que eu sou um moço bom e obediente.  Prova disso, por exemplo, é que depois do dia 01 de setembro, quando fiz a operação com o Xande, NUNCA MAIS eu coloquei um pedacinho de chocolate na boca.
Falou “não pode”, deletei da minha lista de desejos.
E olha que eu era louco com chocolate.

Mas isso[1] não quer dizer que não posso e acabou.  Fico o dia inteiro pensando em que estrepolias eu posso fazer, sem que me custe caro.

Descobri uma loja aqui em Belo Horizonte que vende sorvete sem leite, à base de água. Chama Ease Ice.  A Nestlé também tem uns de limão e abacaxi.  Eles chamam de sorbet.  Estava chapando nos de amora e limão quando Diana, minha personal nutricionist me alertou pra eventuais conservantes, sódio e outras porcarias que era melhor eu deixar de lado.  Pra piorar, Ada, minha personal dentist, ficava me horrorizando pra evitar o açúcar por causa de cárie.

Acabei inventando uma forma que ninguém pode abrir a boca.  Pego pedaços de melancia (que nessa[2] época estão maravilhosas), pico em pedacinhos e depois bato no liquidificador.  Sem água e sem açúcar.  Só a fruta[3].

Aí, coloco no congelador e deixo ficar meio frapé.  De vez em quando tiro, chacoalho, e coloco no congelador de novo.

Sai um sorbet fantástico.  Aí eu tenho só que limitar a um copinho por dia, apesar da vontade de tomar baldes.

Fica maravilhoso por vários motivos.  Primeiro, que o sabor é divino.  Segundo, que dá um prazer suplementar pelo fato de parecer transgressão

E se tem uma coisa que eu sempre gostei na vida foi essa[4] tal de transgressão...






[1] Nunca sei quando o certo é “isso” ou “isto”.  Já me deram umas quinhentas regras, mas todas conflitantes e com exceção.  Mas nunca sei.  Por favor, larguem do meu pé.
Falando nisto, travei agora, sem saber se era excessão.  Obrigado, Aurélio on line.
[2] De novo...
[3] Sem a casca, ça va sans dire
[4] De novo...

sábado, 3 de julho de 2010

Great Job - 88



Uma vez eu estava em Chicago conduzindo um projeto da FDC com a Kellogg,  E na volta, ia dar um pulo até Buffalo, NY, pegar Diogo que passava uns tempos com Jo Yudess, minha irmã, professora da Buffallo State e uma das grandes líderes do Creative Problem Solving Institute.

Ainda no aeroporto, quando eles foram me receber, Jo me falou:
- You’ve made a great job!
Lembro disto até hoje, quando vejo Carol e Diogo juntos, e no great job que eles estão fazendo com Tomás.

Toda hora que eu preciso fé e coragem, eles três são referência pra mim.  A forma de enfrentar a vida, de não ter medo do perigo, me dá uma disposição interminável pra encarar meu desafio.

Diogo foi moldado por desafio.  Acho que tem a ver com as disputas dele no basquete.  Quando entra na quadra, parece que vai pra uma batalha.  Tomás, ao contrário de qualquer menino da sua idade, joga mais basquete que chutebol.  Treina dribles que viu nos Globe Trotters e quando acontece alguma coisa legal na vida dele, grita "Cesta!", em vez do "gol" que qualquer brasileiro normal gritaria.

Ultimamente, a maior fonte de renda deles tem sido a venda de camisas retrô sensacionais que eles vendem pelo www.naftalinaec.com.br.  Começou como uma brincadeirinha e hoje estas camisas, todas réplicas de camisas esportivas de mais de 50 anos atrás, fazem o maior sucesso.

Com o Brasil saindo da Copa, pensei que o mundo deles tivesse desmoronado. 

Encontro Carol, hoje de manhã, cheia de camisas da Argentina indo pra um bar aqui de Belo Horizonte onde los hermanos se encontram.  Hoje ainda, no final da tarde, já estava procurando na internet todos os pontos onde as comunidades alemã e holandesa pudessem estar se reunindo.

Pra mim, eles são minha maior injeção de ânimo.  Pra qualquer desafio, encontram uma solução.

Vê se, com um exemplo destes, é qualquer tumorzinho que vai me tirar do sério!?
Nem por um cacete...  

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Salário Indireto - 87


Já tinha algum tempo que eu estava pensando em reunir esses escritos sob forma de livro.  Na verdade, o que eu gosto mesmo é da idéia disto poder ajudar quem eventualmente estivesse com dificuldade de enfrentar a doença de frente.  A doença ou qualquer outro problema que fosse difícil de encarar.
Na hemo eu via muita gente  que tinha problema para acessar internet ou mesmo de ler o blog na tela do computador.

Reservei o dia pra mim hoje.  Peguei a meia dúzia de livros que fiz em uma gráfica rápida e fui a todos os hospitais por onde andei desde que o Valente entrou na minha vida.

Eu já tinha deixado no Núcleo, onde faço minha hemo. 
Fui a quatro hospitais.  Nos quatro me emocionei enquanto falava.  A voz  embargava, o olho enchia dágua. 
O mais engraçado é que no primeiro momento eu não conseguia explicar direito que eu era paciente renal e que estava ali pra trazer alguma solidariedade pro povo da casa.  
Era só acabar de falar e, invariavelmente, a pessoa com quem eu conversava falava pra mim: 
-  Como assim?
Na verdade, não era a pessoa que não entendia.  Eu era quem não conseguia explicar direito.  Eu me emocionava com o bem que me fazia compartilhar minha experiência com quem tinha o mesmo problema que eu. 
Eu nem sabia ainda se ia fazer bem pras pessoas.  Mas a mim fazia um bem incalculável.

Fui no Felício Rocho, onde fiz minha operação de apendicite e minha lavagem quando meu cocô se recusava a sair.  Fui no Luxemburgo, onde fiz minha operação, onde fui tratado igual rei pelo povo do CTI e onde um anjo chamado Luzia começou a fazer eu gostar de rezar.  Deixei um livro pros pacientes cancerosos do Mário Pena.  Passei na hemo da Santa Casa e me arrependi de não ter levado mais um exemplar pra deixar pro povo da oncologia.
E pra fechar com chave de ouro, mandei pelos Correios um exemplar pro Alê, um irmão meu de uma clínica em Guarulhos que me descobriu na internet.

Gêisa fica olhando pra minha cara de satisfeito enquanto contava pra ela do meu percurso.  Tenho certeza que eu estava fazendo isto pra me deixar feliz.

Tudo bem.  Puro egoísmo bom, eu acho.  Tomara que mais gente fique feliz compartilhando essas histórias comigo.  Foi o melhor investimento que eu já fiz na vida...