Hoje eu não estou bom não. Estou mais estragado que o Valente nesta ilustração.
Começa que eu fiquei particularmente balançado quando começava a manhã com meu ritual diário, lendo o Eduardo Almeida Reis no Estado de Minas. Ele fechava a coluna com a seguinte ruminança. de autoria de R. Manso Neto:
“Sinal seguro da velhice é quando os gases estrepitosos, conservando suas demais características, acrescentam o tom marrom.”
Até hoje minhas manifestações, neste sentido, tem se mantido acromáticas. Mas temo que eu esteja a um passo do depoimento pessoal do senhor R. Manso Neto.
Me[1] explico pra você, que não consegue mais manter a imparcialidade e quer hipotecar sua solidariedade pra Gêisa. É que eu ando tomando remédio que não acaba mais. Tem acetato de cálcio, um quelante, tem um coquetel de vitaminas pra anemia, tem daflon, pra circulação nas pernas, tem o sutent que é o mais poderoso, que substitui a quimio. Este coquetel todo vem mesclado com as estratégias recomendadas pela Diana, minha personal nutricionist lá da clínica de nefrologia. No dia da hemodiálise eu como uma laranja com a casquinha branca incluída e um mamão com semente e tudo. Todo dia bebo meio litro de água, com duas ameixas secas deixadas em imersão por 24 horas.
Quer o que? Não tem cidadão que fique travado. O resultado, entretanto, é meu respeito pela síndrome de Manso Neto...
Pra piorar a situação, fui chamado hoje, no INSS, para a perícia médica.
Fui lá com o relatório do Zéaugusto, meu personal nefrologist, e do Leco, meu personal oncologist. Lidos separadamente, até dá pra encarar. Mas os dois juntos, é um estrago só.
Toda atenciosa, a médica me perguntou se eu concordava em ser encaminhado para a aposentadoria por invalidez.
Ela entendeu como uma anuência quando meu olho encheu dágua.
Fazer o que? Eu não tinha muita alternativa.
Vingativo, na hora em que saia do prédio do INSS da Afonso Pena, deixei, atrás de mim um sonoro, e por enquanto acromático, torpedo.
Bem feito, pensei comigo...
[1] Antes do Cuca reclamar, já lembro a ele que pronome iniciando frase é aceitável quando o relato assume um tom coloquial, conforme nos garantiu o Aurélio, consultado pra um texto da Cedro...